Reunião define conselho gestor do Morro do Osso em Porto Alegre (RS)
Morro do Osso
2007-04-18
Terça-feira da semana passada (10/04), cerca de trinta pessoas
estiveram reunidas na sede da AABB Porto Alegre para definir os
integrantes do novo Conselho Consultivo do Parque Natural do Morro do
Osso. Questões como o cercamento do parque, a desapropriação de
terrenos e a presença indígena serão pauta dos próximos encontros do
grupo, formado para atuar por dois anos. Com o objetivo de apresentar
as características da área e definir quem serão os novos "guardiões" do
Parque, o encontro contou com a presença do secretário Municipal do
Meio Ambiente (Smam), Beto Moesch, e do músico Hique Gomez.
A bióloga Maria Carmem Bastos apresentou as características naturais do
Parque. "O Morro do Osso tem uma área total de 127 ha. Além de seu
enorme valor paisagístico, abriga diversos tipos de habitat, como
campo, campos pedregosos, vassoural e matas, somando mais de 400
espécies de plantas. Dessas, 137 são de árvores, 18 são de campo e 28
estão ameaçadas de extinção. Apesar de não ser um morro reconhecido
pela diversidade da fauna, o Morro do Osso abriga 5 espécies de
mamíferos, 127 de aves, 10 de répteis, 12 de anfíbios, 9 de moluscos e
diversos insetos, entre os quais 104 espécies de borboletas", relatou.
Carmem explicou ainda que Unidades de Conservação, como o Morro do
Osso, representam 1,87% do território brasileiro. Nelas, é admitido
apenas o uso indireto de recursos naturais, como pesquisas, educação
ambiental, trilhas e ecoturismo. Entre os eventos que ocorrem no
Parque, estão mutirões, passeio ciclístico, Abraço ao Morro, Festival
de Pandorga, Semana da Primavera. As visitas são acompanhadas pela
bióloga ou pelos guarda-parques e suportam o limite de 40 pessoas por
dia. As visitas guiadas ocorrem às quartas-feiras, sextas-feiras e aos
sábados, pela manhã e à tarde. Atualmente, existem cinco guardas
monitorando o local e, entre suas atividades, está a manutenção das
trilhas. Entre os problemas ambientais apresentados pela bióloga, foram
destacadas a erosão nas trilhas e as queimadas.
Como será o Conselho
O Conselho Gestor Consultivo foi determinado pelo Plano de Manejo.
Lançado em 2006, o documento, elaborado pela UFRGS e aprovado através
de diversas reuniões da administração do Parque com ONGs e entidades
públicas, determina o regramento do Parque.
Estabelecido pelo artigo 29 da Lei Federal nº 9985 do Sistema Nacional
de Unidades de Conservação (SNUC), o Conselho tem como funções a
elaboração do regimento interno, o acompanhamento da sua implantação, a
busca de integração do Parque com instituições e moradores do entorno e
a manifestação sobre possíveis obras causadoras de impacto. Farão parte
desse conselho 12 instituições da sociedade civil (entre elas, 3 ONGs
ambientais, 3 ONGs de cunho social ou esportivo, 4 associações de
bairro e 2 instituições de ensino) e 12 órgãos públicos.
Os presentes na reunião encarregaram-se de indicar nomes, os quais
serão posteriormente escolhidos pelo secretário Beto Moesch. As
indicações, feitas através de consenso, privilegiaram as associações de
bairro do entorno (Centro Comunitário do Desenvolvimento, Associação
dos Moradores do 7º Céu e Associação Comunitária dos Residentes no
Liberal), entidades ambientalistas (Inga, Miraserra, Saalve e Ascivil)
e entidades sociais e esportivas (ONG Caminhadores, Grupo de Escoteiros
Passo da Pátria, Associação Atlética Banco do Brasil e Associação dos
Ciclistas da Zona Sul). O que faltou foi a participação de entidades de
ensino, as quais serão procuradas pela Smam.
As próximas reuniões, que são abertas ao público e ainda não têm local
definido, ficaram marcadas para as seguintes datas: 8 de maio, 12 de
junho, 10 de julho, 14 de agosto, 11 de setembro, 9 de outubro, 13 de
novembro e 11 de dezembro.
Política ambiental
Conforme o secretário do meio ambiente, Beto Moesch, o mesmo processo
do Conselho do Parque Natural do Morro do Osso está acontecendo na
Reserva Ecológica do Lami e no Parque Saint Hilaire. "Conseguir uma
militância ecológica permanente é muito difícil. O que queremos é
simplesmente organizar a participação da sociedade", afirmou. Durante a
escolha dos participantes, algumas entidades tiveram que ficar de fora
da composição oficial, devido ao número restrito solicitado pela lei.
"Como são conselhos consultivos, o nome da entidade constar ou não na
ata será mera formalidade. O voto não é o mais importante. O melhor é a
opinião. O importante é que as pessoas participem."
Na oportunidade, o secretário abordou também sobre a urgência de
mobilização popular para a organização de eventos culturais, envolvendo
atividades artísticas. "Até quando seremos governados pelo Judiciário?"
– provocou, sugerindo que a população espera muito dos homens das leis
e pouco faz pela sua própria cidade. Entre as idéias transmitidas pelo
secretário estão a realização de exposição de fotos, shows musicais,
teatro. "Temos que fazer Porto Alegre conhecer o Morro e sua história",
completou. Quem apoiou Moesch foi o músico Hique Gomez, que integra a
Associação de Moradores do 7º Céu. Manifestando interesse em organizar
atividades deste cunho no Parque, Hique propôs "chamar amigos para
atrair as pessoas, fazendo Porto Alegre conhecer e valorizar este
local".
A palavra dos usuários
Moradora do Jardim Isabel há 32 anos, a advogada Marília Azevedo
acredita que o local precisa de mais atenção das autoridades.
"Precisamos de mais fiscalização e alguém muito forte no controle para
resolver questões como a desapropriação dos terrenos, a expulsão dos
índios e a demarcação dos limites", afirmou.
Já Luís Antônio Brum Silveira, presidente da Associação Atlética Banco
do Brasil, cuja sede localiza-se em área vizinha ao Parque, aposta no
investimento privado, sem esperar pela ação das autoridades. "A AABB
participa das reuniões para a formação do Conselho com o objetivo de
contribuir para o que está ao seu alcance. Uma empresa socialmente
responsável tem que voltar seus olhos para as polêmicas que estão
próximas a ela e não tentar solucionar os problemas do resto do mundo",
afirmou Silveira.
Existem, ainda, aqueles que dependem do local para as atividades de
ecoturismo. Para o presidente da ONG Caminhadores, Rotechild Prestes,
que utiliza o Morro uma vez por mês, "as principais necessidades do
Morro do Osso são o cercamento da área, a demarcação das trilhas, uma
melhor capacitação dos guarda-parques para o uso de equipamentos de
resgate (como bússola, mapas e gps) e um mapa para que o visitante
possa fazer a trilha autoguiada". Ele utiliza o Parque para a
realização de trilhas junto aos 30 voluntários da ONG. O programa
Ecoturismo Acessível para Todos, destinado às pessoas com deficiência
física em cadeira de rodas, é feito no Parque do Morro do Osso, com o
apoio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente há mais de 4 anos.
(Por Lara Ely Correa, especial para o Ambiente JÁ, 17/04/2007)