A semente crioula será o centro das atenções e dos debates de agricultores familiares, organizações sociais e entidades ecológicas a partir dessa quarta-feira. Dos dias 18 a 20 acontece, na cidade de Anchieta, em Santa Catarina, o 2º Encontro de Formação Camponesa, que se encerra com a 4ª Festa Nacional da Semente Crioula (Fenamic), nos dias 21 e 22. Mais de 32 mil pessoas devem participar dos debates sobre a importância do resgate das sementes para a pequena propriedade e da festa, que vai mostrar as experiências de organização camponesa que já existem no país.
Leila Denise Meurer, da comissão organizadora do encontro de formação, conta que nos espaços de debate serão abordados temas como soberania alimentar, agroecologia, e a liberação dos transgênicos, o que se configura como uma ameaça à sobrevivência da sementes crioulas. Cerca de duas mil pessoas devem participar do encontro. Além do Brasil, já estão confirmadas as delegações da Noruega, Venezuela e Chile. Na festa, são esperadas mais de 30 mil pessoas, ultrapassando os 25 mil visitantes em 2004.
Para Leila, a principal contribuição dos debates e da feita está em mostrar que a técnica da semente não é uma tecnologia ultrapassada, como muitas pessoas teimam em afirmar. "A festa em si já é um grande espaço pra celebrar o que se tem de trabalho com as sementes crioulas, mas, além disso, ela é um grande espaço de troca das experiências e da resistência que os camponeses têm no Brasil. E essa troca acaba produzindo e recuperando o conhecimento que estavam nas memórias de algumas pessoas, que elas guardavam para si com vergonha, porque muitas dessas tecnologias de sementes são consideradas atrasadas por algumas partes da sociedade", diz.
O trabalho que o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) realiza no município de Anchieta é um exemplo de que áreas cultivadas com sementes crioulas podem ser rentáveis sem danificar o meio ambiente. Desde o ano de 1996, agricultores familiares do município trabalham com o resgate de sementes. Somente de milho, já conseguiram resgatar 35 espécies diferentes de sementes, além das de feijão, trigo, hortaliças e ervas medicinais. Há quatro anos, os agricultores vêm trabalhando, com o apoio de técnicos, no melhoramento dos cultivares.
No entanto, o uso de sementes crioulas em Anchieta não vem sozinho; ele é consorciado com a técnica agroecológica o que, segundo Fabiano Baldo, do MPA do município, traz inúmeras vantagens ao agricultor familiar. Além de não se tornar dependente das multinacionais do setor, o produtor ainda preserva o meio ambiente, pois não utiliza adubos ou venenos químicos. O custo da lavoura acaba sendo menor o que, juntamente com a boa produtividade das sementes crioulas, tem os mesmos ganhos que uma lavoura convencional ou transgênica. Hoje, o trabalho envolve 95 famílias do município.
"A importância dele está muito mais na recuperação do solo, da qualidade das sementes e do alimento. Dá pra se notar, nas propriedades que utilizam a agroecologia há mais tempo, o solo está recuperado, a gente volta ter alta produtividade com baixo custo. O que hoje preocupa a agricultura é a baixa produtividade e o alto custo", argumenta.
A 4ª Festa Nacional da Semente Crioula acontece no parque da cidade de Anchieta, em Santa Catarina.
(Por Raquel Casiraghi,
Agência Chasque, 17/04/2007)