Ambientalistas dos Estados Unidos fizeram um novo chamado barulhento ao Congresso para que adote medidas urgentes contra a mudança climática. Milhares de pessoas tomaram as ruas, parques e praias de diferentes cidades no final de semana cobrando dos congressistas a aprovação de uma lei para a redução em 80% das emissões de dióxido de carbono até 2050. As manifestações, realizadas em todos os 50 Estados do país, foram parte da campanha nacional “Step It Up 2007” que é realizada por centenas de organizações de base.
Os organizadores da campanha, que declararam o dia 14 deste mês como Dia Nacional de Ação contra o Clima, disseram estar satisfeitos com o fato de pessoas de todos os setores, incluindo estudantes, ativistas pela paz e líderes religiosos, terem participado em mais de 14 mil ações em todo o país. “Este é um chamado aos legisladores para que acordem”, disse o ambientalista Bill McKibben, autor de vários livros sobre mudança climática e um dos líderes da campanha.
De leste a oeste, os manifestantes se reuniram em centenas de lugares considerados vulneráveis diante dos devastadores efeitos do aquecimento do planeta. “Minha filha mais velha organizou um grupo de crianças de sua escola para nos acompanhar. A mais nova ajudou a fazer cartazes”, contou Nancy Kricorian, da organização de mulheres Codepink, participante da marcha de Nova York. Ela e outros ativistas disseram ter escolhido o centro comercial da cidade para o protesto porque calcula-se que a costa poderia estender-se até essa área se aumentar o nível do mar devido à mudança climática.
Kricorian explicou que se uniu à campanha pensando em suas duas filhas, de 14 e 10 anos. Há duas semanas, quando a temperatura em Nova York chegou aos 21 graus, algo totalmente incomum para a época do ano, “minha filha de 14 anos, que havia assistido ao documentário “Uma verdade inconveniente” (sobre mudança climática apresentado pelo ex-presidente Al Gore) com sua escola na primavera passada, me olhou e disse: “Os ursos polares estão se afogando”, contou a ativista.
Os protestos do fim de semana aconteceram quando o Congresso tem nas mãos cinco projetos de lei relacionados com a mudança climática e seu impacto. Embora tenham muito em comum, os textos mostram significativas diferenças em seu enfoque prático e quanto ao rigor nos limites das emissões. Observadores dizem que estas diferenças estão relacionadas com o custo dos programas para reduzir as emissões e na distribuição desses custos. A maioria dos cientistas concorda que o aquecimento do planeta se deve a atividades humanas, sobretudo a gases liberados pela queima de petróleo, gás e carvão, sendo o principal deles o dióxido de carbono.
Esses gases vão se acumulando na atmosfera e, por sua grande capacidade de reter o calor dos raios solares, acentuam o chamado efeito estufa. A conseqüência desse aquecimento é uma mudança climática global com manifestações regionais e locais, como o derretimento de gelos polares, a elevação do nível do mar, secas, tempestades, furacões e inundações. Embora os Estados Unidos gerem 25% das emissões dos gases causadores do efeito estufa, o governo de George W. Bush retirou a assinatura que seu antecessor, Bill Clinton (1993-2001) havia colocado no Protocolo de Kyoto, único mecanismo internacional contra a mudança climática. Bush argumenta que o acordo pode afetar a economia de seu país.
Por outro lado, Washington exigiu reduções por parte de economias de rápido crescimento, como China e Índia. O governo Bush insiste em afirmar que é preciso mais pesquisas sobre o fenômeno. Por seu lado, cientistas internacionais continuam alertando que a mudança climática é uma verdadeira ameaça e cobram uma ação urgente para freá-la. O informe apresentado este mês em Bruxelas pelo Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC), da Organização das Nações Unidas, alerta que milhares de milhões de pessoas podem sofrer escassez de alimentos e água e serem vítimas de inundações.
“Os mais pobres dos pobres no mundo, e isto inclui os pobres que vivem em sociedades prósperas, serão os mais atingidos”, alertou o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri. Além do informe do IPCC, um estudo da Marinha dos Estados Unidos divulgado na semana passada concluiu que as conseqüências do aquecimento global representarão uma ameaça para a segurança nacional norte-americana. “Ao contrário dos problemas com os quais estamos acostumados a lidar, estes vêm sobre nós muito lentamente, mas chegarão, inexoravelmente”, alerta no documento o militar da reserva Richard J. Truly, ex-funcionário da Nasa.
O aquecimento da Terra pode causar migrações em grande escala e grandes tensões fronteiriças, além de propagar doenças e conflitos por comida e água, segundo o informe. Tudo isto poderia forçar a intervenção das forças militares norte-americanas. Considerando que os Estados Unidos continuam sendo o maior emissor de gases que causam o efeito estufa, os manifestantes cobraram do Congresso que aprove, o quanto antes, uma efetiva legislação para reduzi-los. “Se colocarmos nossa casa em ordem, então poderemos nos unir ao resto do mundo para enfrentar o problema”, disse McKibben.
Com o apoio dos principais grupos ambientalistas e de alguns legisladores, os líderes da campanha prevêem outra manifestação nacional em agosto. Observadores lembram que a campanha ganhará impulso nas próximas semanas, assim como as discussões no Senado. Além da Step It Up, estão previstas atividades em todo o planeta para conscientizar sobre o perigo da mudança climática, como os concertos “Live Earth”, impulsionados por Al Gore, que começarão em Sidney no dia 7 de julho e continuará em vários continentes até concluir nos Estados Unidos nesse mesmo mês.
(Por Haider Rizvi, IPS, 17/04/2007)