Depois de décadas sem investimentos na área, a energia nuclear parece renascer das cinzas já quase esquecidas de desastres como Three Mile Island e Chernobil. Os defensores da nova onda nuclear afirmam que as novas tecnologias são muito mais seguras do que aquelas utilizadas para a construção das usinas de 30 anos atrás e que, de resto, a energia nuclear não levanta grandes preocupações com relação ao aquecimento global.
Mas um estudo feito com dados dos Estados Unidos não vai ajudar muito na defesa dessas idéias. E não por questões tecnológicas ou ambientais - embora muitas possam ser levantadas - mas por razões estritamente econômicas.
Custo da energia nuclear
O principal argumento levantado nas conclusões do estudo é uma espécie de fator surpresa que tem assombrado todos os investimentos feitos em usinas nucleares. Esses custos não previstos nos projetos são responsáveis por custos na geração de energia que variam de US$0,03 por kilowatt/hora até US$0,14. Uma variação de quase 500%, suficiente para destruir qualquer cálculo de retorno sobre o investimento (ROI).
As maiores razões para a elevação não prevista dos custos são a falta de continuidade nas operações das usinas, devido a inúmeras paradas, e os custos não previstos com a segurança dessas operações.
"No longo prazo, se essas plantas têm custos de 4 centavos ou de 8 centavos por kilowatt/hora, elas continuam sendo um bom negócio se o carbono é uma preocupação," diz Daniel Kammen, um dos autores do estudo, referindo-se às emissões de gases causadores do efeito-estufa. "Se o argumento é que o custo realmente é algo importante, então não estou tão certo de que a energia nuclear seja tão competitiva."
A energia nuclear, explorada em 104 usinas, é responsável pela geração de 19% da energia elétrica consumida nos Estados Unidos. Mas a principal razão pela qual não se constrói uma nova usina nuclear naquele país há quase três décadas é que as existentes mostraram ser péssimos investimentos, produzindo uma energia muito mais cara do que era previsto inicialmente.
Reatores nucleares de geração III+
Uma lei aprovada em 2005 prevê vários incentivos para a construção de novas usinas nucleares, desde que elas empreguem novos reatores e novas tecnologias que garantam mais segurança em sua operação. São os chamados reatores de geração III+. Mas os pesquisadores afirmam que, sempre que as empresas introduziram novas tecnologias, elas encontraram uma série de custos não previstos, que mantiveram seus custos de produção muito mais elevados do que o previsto.
A recomendação do estudo, por outro lado, levanta uma série de outras preocupações. "Algumas plantas norte-americanas são realmente muito bem feitas, e são justamente as mais antigas," diz Kammem. "Se nós aprendermos as lições dessas plantas, que são freqüentemente a simplicidade do projeto e a padronização do projeto, então eu acredito que a energia nuclear possa dar a volta por cima." "Projetos mais simples" significariam projetos menos seguros? Valeria a pena abrir mão das novas tecnologias em nome tão somente do rendimento econômico? São perguntas que permanecem sem respostas.
(Inovação tecnológica, 12/04/2007)