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2007-04-17

O desmatamento não pára no hondurenho departamento de Olancho, apesar de uma proibição parcial decretada pelo governo dessa área ambiental da Mesoamérica.
O assassinato impune de dois ambientalistas hondurenhos de Olancho e as infrações à proibição de desmatar florestas ameaçam uma precária trégua nesta região sempre convulsionada pelo desmatamento. “Esta paz relativa pode ser interrompida a qualquer momento, porque persiste a impunidade e a proibição parcial decretada para deter o desmatamento da floresta continua sendo burlada”, disse ao Terramérica a dirigente humanitária Bertha Oliva, natural de Olancho e fundadora do Comitê de Familiares de Presos-Desaparecidos.

Desde 1998, morreram seis ambientalistas neste departamento que ocupa parte do leste, centro e norte do país, com uma superfície semelhante à de El Salvador e cerca de 2,5 milhões de hectares de mata com espécies madeireiras de grande valor. Mais da metade de suas florestas foi cortada. Os elementos que motivaram anos de protestos dos moradores “ainda vigoram como ontem. As pessoas ressentem que não há justiça para os autores intelectuais do fuzilamento de dois ambientalistas, enquanto continua o comércio ilegal de madeira”, disse Oliva.

Em fevereiro, um pacto foi subscrito por grupos ecologistas contrários ao desmatamento e cooperativas de madeireiros após o assassinato, quatro meses atrás, dos ativistas Heraldo Zúñiga e Roger Murillo, do Movimento Ambientalista de Olancho (MAO). As mortes foram atribuídas a quatro policiais, colocados à disposição da justiça em março, depois de intensa pressão de organizações como a Anistia Internacional. Os madeireiros se reúnem na Cooperativa Primeiro de Maio, cujos integrantes mantêm uma forte disputa com o líder do MAO, o sacerdote católico Andrés Tamayo.

Em fevereiro, membros da Cooperativa ocuparam a estrada que leva a Tegucigalpa, reclamando o fim da proibição do corte de árvores em vários municípios de Olancho, decretada em 2006 pelo governo de Manuel Zelaya. Diante dos incidentes e protestos que estiveram perto de terminar em violência, o governo criou uma comissão encarregada de conseguir um entendimento, integrada por militares, representantes do Ministério do Meio Ambiente, do MAO e da Cooperativa Primeiro de Maio. Desta forma, foi acertada uma trégua. Contudo, se não funcionar, “estudamos medidas mais profundas para garantir uma paz total” na região, disse ao Terramérica o Ministro da Defesa, Aristides Mejía.

Em maio do ano passado, o governo determinou a suspensão do corte de árvores nos municípios de Salamá, El Rosário, Jano, Silca e Manto. Segundo disse Tamayo ao Terramérica, a mobilização dos camponeses organizados conseguiu deter o desmatamento em Salamá, Silca, Manto, El Rosário e Jocón, mas não no restante das comunidades afetadas. O transporte ilegal de madeira continua, segundo um controle feito na região pelo estatal Comissariado Nacional dos Direitos Humanos. As peças cortadas recebem uma mistura de água e cal para esconder o tom escuro característico da madeira recém-cortada, segundo o informe desse organismo.

Em Salamá, onde mora Tamayo, grupos de madeireiros organizaram os moradores em cooperativas contrárias ao movimento ecologista, acrescenta o documento. Os 24 mil quilômetros quadrados de Olancho abrigam grande parte da reserva da biosfera do Rio Plátano, declarada Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. A área faz parte do Corredor Biológico Mesoamericano, uma iniciativa para restaurar a valiosa cadeia florestal da região, que compreende o sul do México e os sete países da América Central.

Nas florestas de Olancho, há pinus (Pinus oocarpa, entre outras espécies), caoba (Swietenia machophylla), cedro (Cedrela odorata), carvalho (como os Quercus sapotifólia, Quercus bumelióides, Quercus oleóids) e goiabeiras (Psidium Gajava L.). Os camponeses ecologistas afirmam que o corte está alterando o regime hídrico dos rios da região. O desmatamento é um grave problema para a Mesoamérica. Os incêndios, o desmatamento ilegal e a exploração descontrolada provocam uma redução de 400 mil hectares de florestas por ano, e, se a tendência não for revertida, em 2015 estas terão desaparecido, afirmavam registros científicos, de 2002, do Corredor Biológico Mesoamericano.

Olancho tem sido uma região de recorrentes lutas pelos recursos desde tempos da colônia espanhola. Em meados do século passado, foi considerada o celeiro da América Central por sua abundancia de milho, feijão, arroz e sorgo. Entretanto, o desaparecimento dos incentivos estatais para a agricultura fez a produção diminuir. Sua população, de pouco menos de meio milhão de habitantes, vive da agricultura, do comércio, da pecuária e do trabalho florestal. A pobreza está muito expandida. Nos últimos anos, muitos emigraram para os Estados Unidos. Porém, o negócio dominante é a floresta.

Em 1997, enquanto liderava uma missão pastoral nas montanhas que rodeiam a comunidade de Jocón, Tamayo presenciou uma cena inesquecível: alguns lavradores se preparavam para sepultar um camponês em um saco de plástico porque não tinham dinheiro para comprar um caixão e nem madeira para fabricá-lo. “Paradoxalmente, ali havia algumas serrarias e as comunidades tinham em volta uma grande riqueza florestal”, contou o religioso ao Terramérica. A partir de então, Tamayo organizou cerca de 23 comunidades do norte de Olancho contra o comércio ilegal de madeiras finas.

Esses povoados organizados ficam nos municípios de Manto, Guarizama, Silca, Salamá, Guata, Jano, Jocón, El Rosário, Mangulil, La Unión e Esquipulas do Norte. Ali, a defesa da floresta “é um espírito ardente, como são as queimadas ilegais para extrair madeira”, disse Oliva. A exportação de madeiras rende ao país pouco mais de US$ 50 milhões, e os destinos são Estados Unidos, Caribe e países como a Alemanha, segundo a Associação de Madeireiros de Honduras. A legislação florestal é considerada obsoleta, mas uma nova lei, prestes a ser aprovada, recebe críticas dos ecologistas, que consideram nula a proteção prevista para as reservas.

A estatal Corporação Hondurenha de Desenvolvimento Florestal, encarregada de regulamentar o uso das florestas, foi questionada por denúncias de vínculos de algumas de suas autoridades com empresas madeireiras. Para o sacerdote jesuíta Ismael Moreno, o poder e a influência dos “barões da madeira” é de tal ordem, que, em Olancho, “grande parte dos candidatos a cargos políticos nesse departamento recebem financiamento” desse pessoal.
(Por Thelma Mejía, Terramérica, 16/04/2007)

 


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