A elevação do nível dos oceanos, as secas e as enchentes provocadas pelo aquecimento global podem detonar conflitos armados nas próximas décadas, afirmaram especialistas na segunda-feira (16/04), véspera do primeiro debate do Conselho de Segurança da ONU sobre as mudanças climáticas. E as regiões tropicais e pobres da África e da Ásia devem ser as mais atingidas, talvez criando tensões com países ricos localizados nas regiões temperadas do norte do globo, que devem ficar livres dos piores efeitos do aquecimento, atribuído à queima de combustíveis fósseis.
"O aquecimento global aumenta as chances de conflito", disse Janos Bogardi, chefe do Instituto de Meio Ambiente e Segurança Humana da Universidade da ONU, em Bonn. "Os efeitos mais imediatos serão provavelmente a desertificação e a degradação do solo", afirmou Bogardi à Reuters. O grupo dele prevê que, no longo prazo, o aquecimento obrigará centenas de milhões de pessoas a abandonarem suas casas.
Segundo o pesquisador, o conflito na região de Darfur (Sudão), onde 200 mil pessoas já morreram, era "provavelmente o exemplo mais gritante" de um conflito parcialmente provocado pela degradação do solo. No longo prazo, a elevação do nível dos oceanos provocada pelo derretimento das calotas polares e de geleiras poderia tragar grandes faixas de terra de países como Bangladesh, fazendo com que milhões de pessoas emigrassem, aumentando as chances de surgirem conflitos em torno do domínio da terra.
"As mudanças climáticas podem se transformar em uma enorme questão de segurança", disse Paul Rogers, professor da Universidade Bradford, na Inglaterra. Ainda assim, segundo Rogers, as desavenças sobre o petróleo continuavam a ter um potencial maior de provocar conflitos do que as mudanças climáticas.
Segurança dos EUA
Um relatório divulgado na segunda-feira, 16, por um grupo composto por 11 generais e almirantes americanos da reserva avalia "como as mudanças climáticas podem representar uma séria ameaça à segurança nacional dos EUA e às Forças Armadas norte-americanas, dentro e fora do país."
Um estudo, divulgado em 6 de abril por alguns dos principais cientistas do mundo para a área climática, advertiu que a elevação das temperaturas pode provocar falta de água e deixar milhões de pessoas, especialmente na África e na Ásia, sem comida. Esses acontecimentos fariam surgir grandes levas de migrantes e poderiam contribuir para a disseminação de doenças.
"Os problemas ambientais deveriam ser incluídos em um conceito expandido de segurança", afirmou Paal Prestrud, chefe do Centro para a Pesquisa Internacional sobre o Clima e o Meio Ambiente, em Oslo. Bogardi disse ainda que o aquecimento global pode aumentar a distância que separa os ricos dos pobres no mundo.
(Por Alister Doyle, Reuters, 16/04/2007)