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2007-04-16

O hidrogênio pode tornar-se a energia do futuro e uma das principais indústrias em Portugal, se existir um enquadramento legislativo adequado e se for essa a orientação governamental, defendeu Mário Alves, um dos principais especialistas na matéria. O director do laboratório de Ambiente Marinho e Tecnologia da Universidade dos Açores afirmou, em declarações à Lusa, que existem alguns projectos de investimento para a construção de centrais de hidrogénio no país, mas que estão dependentes da remoção de algumas barreiras burocráticas por parte do Governo.

 

A discussão sobre o hidrogénio e a energia nuclear foi relançada ontem pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que afirmou em Riga, capital da Letónia, que será difícil evitar a discussão sobre a energia nuclear em Portugal, a não ser que se concretize a utilização do hidrogénio enquanto combustível alternativo. Mário Alves defende que as soluções tecnológicas já estão disponíveis para que o hidrogénio seja "implementado de forma sistemática e sustentável".

 

O incentivo para o aparecimento de investidores interessados na promoção desta energia alternativa deverá passar pelo Governo, na criação de condições a nível legislativo, como "a remoção de barreiras burocráticas" ao licenciamento ambiental dos projectos e a isenção total ou parcial do imposto sobre os combustíveis renováveis. "As soluções tecnológicas estão disponíveis e são suficientes, mas para os investidores privados avançarem é necessário que eles encarem o hidrogénio como oportunidade de negócio e para isso é necessário remover barreiras", afirmou.

 

"Podíamos ter a maior indústria do país se apostássemos no hidrogénio, com todas as vantagens que traz a nível de criação de emprego qualificado, crescimento económico e redução da importação de combustíveis fósseis", acrescentou. Mário Alves defende que se Portugal conseguir produzir hidrogénio em larga escala, em "meia dúzia de anos poderá tornar-se auto-sustentável em termos energéticos e ainda exportar".

 

Nuclear deve ser a última solução

O especialista defende ainda que, face às alternativas existentes, a opção nuclear deveria ser a última solução. "Além de apresentar problemas a nível de resíduos, não é uma tecnologia portuguesa e como tal teria de ser comprada, para além de que ficaríamos dependentes da importação de urânio enriquecido", defendeu.

 

O hidrogénio é um gás incolor, inodoro e não tóxico abundante no universo, produzido através de diversas fontes de energia como combustíveis fósseis, nuclear ou energias renováveis, como a eólica, biomassa, solar e água (ondas e marés). O especialista defende que o hidrogénio em Portugal só será viável em termos económicos com base na utilização a cem por cento das energias renováveis. É, além disso, uma energia praticamente limpa, sem emissões significativas de gases poluentes no seu processo de produção.

 

O hidrogénio pode ser utilizado para produção de electricidade, em centrais termoeléctricas, mas a sua aplicação preferencial é nas chamadas pilhas de combustível, capazes de gerar electricidade e calor. As tecnologias actuais permitem ainda a armazenagem do hidrogénio quer como gás comprimido a elevadas pressões, quer como hidrogénio líquido a baixas temperaturas ou dissolvido em substância sólidas.

 

A sua utilização em automóveis é já possível, tendo existido em Portugal um projecto-piloto de autocarros movidos a hidrogénio, desenvolvidos pela Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, no âmbito de um projecto europeu.  Essa versatilidade permite ao hidrogénio, ao contrário da energia nuclear, cobrir as necessidades de electricidade (20 por cento) e combustíveis (80 por cento).

(Lusa, 13/04/2007)

 


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