Projeções do Banco Mundial indicam que o mundo deve ter, em 2015, menos da metade da proporção de pobres que tinha em 1990, cumprindo assim a primeira meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Já a América Latina, apesar de chegar perto do cumprimento da meta, não deverá alcançá-la, segundo o Relatório de Monitoramento Global 2007, lançado na sexta-feira (13/04).
Em 1990, 29% da população mundial vivia com menos de US$ 1 por dia (em dólares por paridade de poder de compra, que elimina diferenças nos custos de vida). Essa proporção diminuiu em 2004 para 18% e, se esse ritmo for mantido, deverá chegar a 12% nos próximos nove anos, de acordo com o estudo do Banco Mundial, que teve a colaboração de especialistas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD). Se a estimativa se confirmar, o número de pessoas na miséria vai diminuir mais do que o estabelecido pelo primeiro Objetivo do Milênio — reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção da população com renda diária inferior a US$ 1.
Na América Latina, 10,20% da população vivia com renda diária inferior a US$ 1 em 1990. Em 2004, caiu para 8,6% e, em 2015, deve chegar a 6% — número superior aos 5,1% determinados pela meta da ONU. “A porcentagem de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia na América Latina e no Caribe caiu apenas ligeiramente”, destaca o relatório. Entre 2002 e 2004, o recuo foi de 9% para 8,6% — o que significa que cerca de 700 mil pessoas (equivalente a metade da população de Belém) saíram da pobreza nesse período. A região abriga 47 milhões do 1 bilhão de pessoas que vivem em extrema pobreza.
Além de ser “modesta”, a redução da pobreza no subcontinente também é desigual, mostra o relatório. “A pobreza está cada vez mais concentrada nos Estados frágeis – nos quais há governança, políticas e capacidade especialmente fracas”. No Haiti, considerado pelo relatório como o único Estado frágil da América Latina, 53,9% das pessoas vivem com menos de US$ 1 por dia. O indicador também é ruim em países como Nicarágua (45,1%), Bolívia (23,2%) e El Salvador (19%). Na outra ponta estão Uruguai (com menos de 2% na extrema pobreza), Argentina (6,6%) e Brasil (7,5%).
Se o ritmo dos últimos anos for mantido, outras duas regiões também não deverão cumprir a meta, prevê o Banco Mundial. A situação é pior na África Subsaariana, onde 35,6% da população deve ter renda inferior a US$ 1 por dia em 2015, ao invés dos 23,4% estipulados pelos Objetivos do Milênio. Na Europa e na Ásia Central, onde a taxa já era bastante baixa em 1990 (0,5%), a proporção de pobres subiu para 0,9% em 2004, mas deve voltar aos 0,5% em 2015, segundo o estudo.
No Pacífico e no Leste da Ásia, a meta era reduzir de 29,8% (em 1990) para 14,9%, mas a região foi além do determinado pelos Objetivos da ONU: chegará a 2015 com 2,4% de pessoas em extrema pobreza, de acordo com as projeções do BIRD. No Sul da Ásia, o ODM também deverá ser cumprido: a proporção de pobres deve recuar de 43% para 18%, menos que os 21,5% estabelecidos. No Oriente Médio e na África do Norte, o indicador deverá ir de 2,3% para 0,8%, menos que a meta de 1,2%.
Veja quais são os ODMs
Objetivo 1: Erradicar a pobreza e a fome
Meta 1 (diminuir pela metade a população com renda inferior a US$ 1 por dia) – não deve cumprir
Objetivo 2: Atingir o ensino básico universa
Meta 3 (universalizar o ensino básico) – deve cumprir
Em 1990, 83% das crianças da América Latina e do Caribe tinham terminado o ensino básico. Em 2005, a porcentagem havia subido para 97%, colocando a região “próxima do objetivo”.
Objetivo 3: Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
Meta 4 (igualar número de meninos e meninas na escola) – já cumpriu.
A taxa de matrícula das meninas, inclusive, já excede a dos meninos
Objetivo 4: Reduzir a mortalidade na infância
Meta 5 (reduzir em 2/3 a mortalidade na infância) – deve cumprir.
Objetivo 5: Melhorar a saúde materna
Em 1990, a mortalidade na infância atingia 58% das crianças até 5 anos. Em 2005, o número caiu para 31% e, em 2015, deve chegar aos 18% estipulados. Mas, destaca o Banco mundial, há grandes diferenças entre os países. O Haiti teve 117 mortes por mil nascidos vivos em 2004 e o Chile, oito. No Brasil, foram 33 em 2005.
Meta 6 (reduzir em 3/4 a mortalidade materna) - não há projeção.
Maioria dos países não tem dados, mas as taxas de mortalidade materna "permanecem acima do que se poderia esperar": 194 mortes por 100 mil nascidos vivos, em 2000.
Objetivo 6: Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças
Meta 7 (inverter a tendência de propagação do HIV) – pode cumprir
Alguns países já cumpriram a meta, mas não há um levantamento para a região.
Objetivo 7: Garantir a sustentabilidade ambiental
Meta 10 (reduzir pela metade a proporção da população sem acesso permanente e sustentável a água potável segura) – deve cumprir.
Em 1990, 33% da população não tinham acesso ao esgoto e 17%, não tinham água potável. Em 2004, essas proporções recuaram para 23% no caso do saneamento (a meta é de 16%) e a para 9% no caso da água (meta já cumprida)
Objetivo 8: Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento
Este Objetivo é direcionado aos países desenvolvidos.
(Por Talita Bedinelli,
Agência PNUD, 13/04/2007)