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2007-04-16
A onda da alimentação saudável tem impulsionado o consumo de água potável no Brasil. Assim como no resto do mundo, as vendas de água mineral ou variações no país crescem a taxas superiores à da indústria de bebidas como um todo. O crescimento do mercado doméstico, em volume, tem se aproximado da casa de 10% desde o início da década.

Estima-se que o segmento de água mineral responda por um terço da expansão da indústria de bebidas no mundo. E esse crescimento tem sido acelerado pelas novas águas com sabor ou funcionais (com sais minerais, vitaminas, fibras etc.), que agora são lançadas no país.

"O consumo crescente de água engarrafada no Brasil tem sido alavancada pela maior consciência em questões relativas à saúde, especialmente entre as classes de maior renda. Isso tem levado a uma mudança das bebidas carbonatadas [refrigerantes] para a água", disse à Folha Gary Roethenbaugh, diretor de pesquisa e desenvolvimento da consultoria britânica Zenith International, especializada no ramo.

Enquete do Instituto Qualibest, por meio da internet, com 574 pessoas das classes A, B e C revela que 43% dos entrevistados disseram que pretendem consumir menos refrigerantes com o lançamento das águas com sabor. Esse número chega a 51% dentro da classe A e a 54% entre aqueles que já experimentaram a nova bebida.

"[Esse movimento no Brasil] contrasta com o de outros países, em que o crescimento do consumo de água engarrafada tem sido causado principalmente por necessidade [da bebida]", disse Roethenbaugh.

Para multinacionais que dominam o mercado mundial, mas não exercem poder semelhante no país, o lançamento da água com sabor é ainda oportunidade de agregar valor a um segmento pulverizado e de margens apertadas.

"O mercado brasileiro de água mineral começa a se desenvolver, mas ela continua sendo considerada uma commodity, o que abre a oportunidade para a diferenciação tanto em termos de produto quanto de embalagem", afirmou Edson Ebizawa, diretor-geral da Nestlé Waters no Brasil.

Em valores, as três marcas líderes no país detinham 27% de participação no mercado em 2005 (último dado disponível), segundo a ACNielsen. Em mercados desenvolvidos, como na Europa, a participação das três líderes supera os 50%.

Enquanto a concentração de três marcas chegava a 40% em áreas como a Grande São Paulo, não superava 15% em Estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro e na região Sul.

Para Roethenbaugh, a "principal explicação para "players" como Coca-Cola e Nestlé terem participação de mercado limitada no Brasil é justamente o fato de existirem tantos engarrafadores, o que o torna sensível ao fator preço".

"Nenhuma marca é totalmente nacionalizada no Brasil. O custo do frete é muito elevado [para transportar a bebida retirada de uma fonte a diferentes regiões]. Outra razão é que o consumidor dá importância à procedência da água, por isso existem marcas regionais fortes", diz Carlos Alberto Lancia, presidente da Abinam (Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais).

Analistas apontam a baixa rentabilidade como uma das razões principais para "múltis" como Danone e PepsiCo não atuarem no segmento de água engarrafada no país.

A despeito das dificuldades, o país é visto como um dos mercados mais promissores. Embora não apareça entre os "top 15" em consumo per capita, é apontado um dos maiores mercados do mundo em volume. Chega a figurar da quarta até a décima posição de acordo com o dado de referência.

Para o Grupo Edson Queiroz, líder do mercado nacional com as marcas Indaiá e Minalba, o consumo está subestimado. "Existem no Brasil centenas de marcas absorvidas por uma demanda real e que não figuram nas estatísticas oficiais por serem irregulares ou clandestinas", disse Fábio Fontenele, gerente comercial do grupo para o segmento de água.

Outra ressalva é a existência de água consumida da torneira ou de filtros, que não entram nos dados de consumo. A pesquisa da Qualibest apontou que quase metade (48%) dos entrevistados revelou beber água com essa procedência.
(Por Marcelo Sakate, Folha online, 15/04/2007)

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