As 400 toneladas diárias de lodo de esgoto produzidas no Distrito Federal estão sendo transformadas em fertilizante. A informação é do pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agopecuária (Embrapa Cerrado), Jorge Lemainsk, responsável pelo projeto desenvolvido há três anos pela estatal.
As pesquisas comprovaram que esses resíduos, ricos em materiais orgânicos e nutrientes, podem ser usados na agricultura , em substituição aos fertilizantes comuns, em especial nas culturas de grão como milho, sorgo e soja com vantagem econômica , sanitária e ambiental para produtores e para a sociedade.
Lemainsk destacou a importância do uso do lodo na agricultura. ''É bom para a sociedade e para a economia, porque evitamos importar nitrogenados, e de usar fertilizantes não renováveis, como
o fósforo”.
O pesquisador disse que o lodo produzido diariamente no Distrito Federal é suficiente para fertilizar até 5 mil hectares por ano. “É uma economia significativa, porque deixamos de gastar cerca de R$ 3,8 milhões, com a compra de uréia, super -fosfato triplo e cloreto de potássio, que são os fertilizantes mais comuns. Eu diria que quem mais sai beneficiado com isso é o meio ambiente e a sociedade”.
Jorge explica que para evitar qualquer risco de contaminação humana ou animal, a Embrapa está avaliando os parâmetros sanitários, em função de o lodo conter agentes patogênicos, como coliformes fecais.
''Mas as mais de 1.500 análises realizadas nos deram a evidência de que o risco de contaminação, após 30 dias é desprezível, já que esses agentes patogênicos não sobrevivem ao solo, onde estão plantadas as culturas de milho e soja que serão colhidas após de 120 dias.''
Lemainski lembra que o lodo antes de ser utilizado como fertilizando passa por um processo de purificação. ''Na ordem de 10 mil litros de água, que chegam a estação de tratamento,apenas um litro é de material sólidos, orgânico ou inorgânico.
Essa parte orgânica sofre um processo de digestão por bactérias dentro de reatores, e separada por um processo de polimento químico. A água volta limpa para o lago Paranoá, e essa pasta resultante, que é o lodo de esgoto, rico em nutrientes é usada na agricultura''.
Esse tipo de fertilizante reciclado pode ser usado inclusive em reflorestamento, e em culturas que não tem contato direto com o solo, como o caso de frutíferas. Por uma razão de ordem comercial a Resolução 375/2006 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) proibiu o uso do lodo de pastagem em culturas de hortaliças.
Pesquisas semelhante já estão sendo desenvolvidas nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Segundo Lemainski para que o produtor tenha acesso a esse fertilizante natural, ele deve procurar a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural- Emater, nos estados onde a pesquisa está sendo realizada.
Lemainski afirma que com um investimento de R$ 40 bilhões para pesquisa de melhoramento de saneamento básico, o Brasil vai dar um salto de qualidade no tratamento preventivo. ''Com o programa de investimento de R$ 40 bilhões previstos para os próximos cindo anos,vamos dar um salto, a exemplo que outros países desenvolvidos já fizerem. Para cada real que eu aplico em saneamento básico, reduzo cerca de R$ 4 em gastos com saúde pública”.
(Por Cleide Lopes Vieira,
Agência Brasil, 15/04/2007)