A Coréia do Norte, alheia às pressões internacionais para que promova o desarmamento nuclear, lembrou neste domingo (15/04) o 95º aniversário do nascimento de Kim Il-sung, fundador do "paraíso socialista".
– Kim Il-sung é nosso deus e será nosso presidente eterno – afirmou a tradutora Choe antes de se curvar diante de uma figura de cera do ex-líder, que dirigiu a Coréia comunista de 1948 até 1994, ano da sua morte.
No dia de comemorações, a capital Pyongyang recebeu um esperado presente dos outros participantes das negociações nucleares (China, Estados Unidos, Coréia do Sul, Rússia e Japão): a prorrogação por vários dias para o início do desarmamento nuclear. Esses países decidiram dar "mais uns dias" para a Coréia do Norte por estarem conscientes de que ela não pretende iniciar a suspensão das atividades no reator de Yongbyon enquanto não receber os U$ 25 milhões, depositados em um banco de Macau e embargados durante mais de ano e meio por Washington.
No acordo firmado no dia 13 de fevereiro em Pequim, os norte-coreanos deveriam ter iniciado no sábado o fechamento de Yongbyon, reator de 50 MW de potência construído há mais de 20 anos e situado a cem quilômetros da capital.
Apesar dos problemas econômicos que atravessam há anos, os norte-coreanos separaram um dos poucos dias de feriado escolar para homenagear o fundador da primeira dinastia comunista e mostrar fidelidade ao regime. A praça Kim Il-sung, que costuma servir de palco para os desfiles militares nos quais o governo mostra ao mundo suas últimas conquistas em armamento, acolheu hoje um espetáculo de dança que contou com a participação de milhares de casais.
As mulheres usaram os tradicionais vestidos coreanos e os homens vestiram ternos pretos para cobrir por duas horas a praça de 70 mil metros quadrados com um mosaico multicolorido, que se movimentou com insuperável coordenação. No início e no final da celebração, os fogos de artifício coroaram o ato e evidenciaram a magnitude da praça que tem 100 mil ladrilhos de rocha branca e foi construída para ser igual à Praça da Paz Celestial, de Pequim.
Ao fundo, os retratos de Kim, Marx e Engels, e a torre de 170 metros – construção baseada na ideologia Juche (auto-suficiência) – brilhavam sobre o rio Taedong, que divide Pyongyang em duas partes. Durante toda a festa, milhões de norte-coreanos depositaram flores aos pés das estátuas e retratos que aparecem por toda a Coréia de Norte, país de 22 milhões de habitantes.
Nos rostos das crianças – alguns vestidos de militar e outros de pioneiros – era possível ver a emoção que sentiam por serem fotografados em frente à estátua de Kim Il-sung em Pyongyang.
A abertura do Festival Arirang (do Sol) permitiu que centenas de estrangeiros entrassem no país, inclusive norte-americanos, que tentaram, sem sucesso, conversar com os habitantes locais. Apesar da crise nuclear e do isolamento do país que parece cada vez mais insustentável, os norte-coreanos continuam seguindo a ideologia da auto-suficiência.
Quem viaja ao norte do país, perto da fronteira com a China, consegue ver hoje muitas famílias norte-coreanas comendo no campo, enquanto os camponeses se dedicavam a cuidar das plantações e os militares montavam guarda nas estradas quase desertas. Por se tratar de um país muito montanhoso (menos de 20% do território é cultivável), os norte-coreanos aproveitam cada monte para plantar arroz, seu principal alimento.
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Clic RBS, com informações da Agência EFE, 15/04/2007)