A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está coletando óleo de cozinha em Florianópolis e transformando em combustível. O óleo coletado é de residências, restaurantes e bares dos bairros próximos à UFSC - Trindade, Córrego Grande, Pantanal e Carvoeira. O biocombustível produzido vai para a Cooperativa de Agricultores, Consumidores e Artesãos da Região Serrana (Ecoserra), de Lages, no Planalto Serrano catarinense, e outros agricultores ligados à rede Ecovida de Agroecologia.
O projeto, chamado Família Casca, existe desde agosto de 2006 e conta com o trabalho de alunos bolsistas do Centro de Ciências Agronômicas da UFSC. No início, o grupo coletava apenas resíduos orgânicos para compostagem (transformação em adubo). Com a parceria do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), a partir do fim do ano, iniciou-se também a coleta de óleo.
A Cepagro realiza o mesmo trabalho na Feira Ecológica do Sul da Ilha, no bairro Armação. Nos arredores da UFSC, o projeto tem a adesão de quatro restaurantes, onde são coletados aproximadamente 300 litros de óleo por mês. O Cepagro e a Família Casca também ganham, aos poucos, a adesão de moradores e outros tipos de estabelecimentos comerciais da região, que armazenam e encaminham o óleo ao Parque Ecológico do Córrego Grande.
De acordo com Marcos José de Abreu, membro do Cepagro, em duas semanas o centro de estudos irá entregar um projeto para o Ministério da Justiça, pedindo verbas para a inclusão da coleta em escolas, creches, parques, condomínios, igrejas e conselhos comunitários. A verba seria disponibilizada pelo Fundo de Direitos Difusos e seria destinada à divulgação do projeto e implementação de atividades educativas nesses locais.
A produção de biocombustível é realizada através da filtragem do óleo saturado. Também está nos projetos da Família Casca a criação de uma usina de filtragem no parque, mas não há previsão de quando e como ela será viabilizada. Para utilizar o biocombustível, os veículos a diesel têm que ser adaptados, ganhando um novo motor. Por ser pouco viscoso, o óleo precisa ser aquecido para servir como combustível – papel realizado pelo motor a diesel.
De acordo com a Associação Industrial e Comercial de Florianópolis (Acif), um restaurante com duas fritadeiras troca o óleo, em média, a cada 15 dias, gerando mensalmente cerca de 50 litros de óleo saturado. Em bairros comerciais e não-turísticos como os que cercam a universidade, com cerca de 70 restaurantes, a produção média mensal é de 3,5 mil litros – sem contar a produção de óleo saturado nas residências.
Nas casas ou em restaurantes, o óleo de cozinha muitas vezes é despejado direta ou indiretamente na rede de esgoto, causando a obstrução das redes coletoras. Nos rios, a presença do óleo também é nociva. Como é mais leve do que a água, ele flutua, formando uma barreira que dificulta a entrada de luz e prejudica a oxigenação da água – comprometendo a base da cadeia alimentar aquática.
Programa ReÓleo O programa ReÓleo, da Acif, também promove a coleta de óleo de cozinha de bares e restaurantes da Capital desde 2002. Além disso, a prefeitura de São José, na Grande Florianópolis, concedeu um prazo até esta sexta-feira para os estabelecimentos comerciais do município fazerem a adequação necessária para a inclusão no programa Olho no Óleo – que regulamenta a coleta e destinação do óleo de cozinha. Nos dois casos, o óleo é destinado à produção de saponáceos e produtos de higiene.
De acordo com a Acif, uma antiga lenda romana conta que a palavra saponificação teria sua origem no Monte Sapo, onde eram realizados sacrifícios de animais. A chuva levava uma mistura de gordura animal derretida com cinzas e barro para as margens do Rio Tibre. Essa mistura resultava em uma borra. As mulheres descobriram que, usando esta borra, suas roupas ficavam muito mais limpas. A essa mistura os romanos deram o nome de sabão e à reação de obtenção do sabão de reação de saponificação.
A reciclagem do óleo de cozinha em saponáceos é a mais utilizada mundialmente. Mas, além do sabão e do biocombustível, o óleo saturado pode ser utilizado no processo de fabricação de tintas e cosméticos, além do biodiesel.
Algumas cidades do Brasil possuem empresas especializadas na recuperação do óleo de fritura para diversas finalidades. Entre elas, Novo Hamburgo e Gramado, no Rio Grande do Sul, Blumenau, em Santa Catarina, e Curitiba, capital do Paraná. Além disso, a produção de sabão caseiro é uma boa alternativa para o óleo acumulado nas residências (ver receita abaixo).
Receita de sabão caseiro Ingredientes 5 litros de óleo usado e coado
1 copo americano de fubá
500 ml de detergente líquido de coco
1 litro de soda cáustica líqüida
1 litro de água fervente
Modo de preparo Em um balde grande, coloque o óleo coado, junte o fubá, o detergente, a soda cáustica e mexa bem. Depois de misturados acrescente a água fervente e continue mexendo por 40 minutos sem parar.
Coloque a massa na forma e deixe descansar por 10 dias até endurecer. Se for colocar em um recipiente único, corte no formato desejado antes de a barra endurecer completamente.
(Por Graziela Storto,
Clic RBS, 13/04/2007)