Nesta quinta-feira (12), a Companhia Vale do Rio Doce, por meio de uma propaganda impressa, afirmou que é possível crescer como mineradora e manter o compromisso com o meio ambiente. Para a Associação Capixaba de Meio Ambiente (Acapema), a propaganda esconde a realidade. "A CVRD continua empurrando com a barriga problemas graves."
"De que adianta anunciar que preservou a Mata Atlântica se aqui, localmente, o problema não está nem perto de ser resolvido?", questiona Freddy Guimarães, da Acapema.
Segundo o ambientalista, de nada adianta a empresa alardear suas ações de pesquisas para proteção de florestas nativas e seu orçamento de R$ 420 milhões para a área ambiental se na prática suas usinas funcionam sem os mecanismos necessários para minimizar sua poluição (precipitadores eletrostáticos) em usinas que estão em funcionamento há mais de 20 anos.
Somente este ano a empresa resolveu anunciar a instalação de precipitadores nas Usinas 6 e 7. Antes disso, as usinas poluíam livremente o ar da Grande Vitória. Diversas denúncias neste sentido foram feitas pela Sociedade Civil Organizada ao Ministério Público Federal (MPF) e aos órgãos ambientais competentes.
A empresa, que está prestes a requerer a licença para instalar a Usina VIII no Porto de Tubarão, afirma em sua campanha: "Nos tornamos a segunda maior mineradora diversificada do mundo, consolidamos o processo de internacionalização da empresa e conseguimos fazer tudo isso com foco no desenvolvimento sustentável".
A Acapema está descrente. Segundo a entidade, a CVRD anuncia ser ótima para o meio ambiente desde que começou a ser pressionada para instalar mecanismos para minimizar sua poluição. Desde então ela trabalha com grandes campanhas ressaltando sua preocupação ambiental, mas na prática a situação ainda não mudou, informou a organização.
Desde a década de 80, somente as exigências legais para que fossem concedidas suas licenças foram capazes de pressionar que a CVRD tomasse iniciativas para poupar o meio ambiente de sua poluição. Ainda assim, há ainda usinas que funcionam - desde sua implantação - sem mecanismos para minimizar a poluição.
"Eu não acredito mais na Vale. Quando ela parar de ser questionada pela sociedade, quem sabe? Olha um exemplo: ela há anos é cobrada e só agora anunciou que vai instalar os precipitadores das usinas 6 e 7 como se isso fosse um favor à sociedade e não uma dívida de anos com a sociedade que ela vem prejudicando", disse Freddy.
Da CVRD a sociedade cobra o fim do "pó preto". Além de causar males à saúde, como problemas respiratórios e alergias, o pó causa desconforto dentro das casas dos capixabas. Segundo depoimentos de moradores da Ilha do Frade, por exemplo, o pó impede que as janelas das casas fiquem abertas durante o dia.
Apesar de alardear os milhões que gasta em preservação ambiental, a empresa é ainda a mineradora campeã de multas no Ibama. Só no ano passado ela levou R$ 2,9 milhões em multas através de suas atividades em todo o País.
Os capixabas exigem que para sua próxima licença - considerada como certa por ambientalistas - a empresa instale precipitadores eletrostáticos em todas as suas usinas e mecanismos que impeçam a dispersão do pó em seus pátios e na hora do descarregamento em navios como telas de proteção que impeçam a passagem do pó.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 12/04/2007)