RIO - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu pressa na defesa da Amazônia contra os efeitos do aquecimento global. Ela advertiu que, se as medidas de proteção da Amazônia acontecerem "com a mesma velocidade" dispensada à Mata Atlântica, "não haverá mais jeito" de contornar o risco da parte da maior floresta tropical do planeta transformar-se em savana - como alertou o último relatório do painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
"Levamos 14 anos para aprovar no Congresso - e eu estava lá entre os senadores - a preservação dos 7% que restaram da Mata Atlântica", destacou.
"Se a proteção da Amazônia for tratada na mesma velocidade com que as coisas estão acontecendo, não haverá mais jeito", disse. Ela cobrou responsabilidade e envolvimento da sociedade. "Fomos nós que colocamos lá deputados e senadores que não se importavam", afirmou. "Não há como investir em meio ambiente sem sustentação da sociedade", disse. "E a sociedade vai estar sempre à frente dos governantes", acrescentou.
Ela pregou a ação conjunta de setores do governo e a união de todas as forças políticas em defesa da natureza. "Nós temos de acabar com essa péssima mania brasileira de disputar autoria e de fulanizar as leis; a lei não é de uma pessoa, mas de todos", disse.
A ministra defendeu ainda que o Brasil opte pelo que chamou de "desenvolvimento ético". " Avançamos muito na tecnologia, mas ficamos muito atrasados na ética", definiu. "Não posso ser a favor de um desenvolvimento econômico que vai aquecer o planeta e nos fazer derreter", disse. E exemplificou: "Nós temos sim que produzir mais etanol, mas sem que isso signifique mais problemas ambientais".
Marina Silva sugeriu que o País reutilize terras abandonadas ou semi-abandonadas - estimadas por ela em 165 mil km2 - para a agricultura ou pecuária evitando, desta forma, o avanço sobre áreas de florestas.
Marina Silva reafirmou que já obteve expressiva redução no desmatamento da Amazônia. Segundo ela, o ministério vem agindo em três frentes para proteger a floresta: ordenamento territorial e fundiário, criação de unidades de conservação para interromper frentes predatórias e combate policial das fraudes e ilegalidades.
"Criamos 20 milhões de km2 de áreas de conservação, retiramos 66 mil grileiros, descredenciamos 1.500 empresas e fizemos 146 operações com a Polícia Federal", enumerou. Destacou ainda que, apenas no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), 120 funcionários foram presos por envolvimento em irregularidades.
Marina Silva esteve no Rio de Janeiro para dar a aula inaugural do ano letivo da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz.
(Por Mara Bergamaschi,
Estadão, 11/04/2007)