A mudança climática pode diminuir a água disponível na América do Norte, provocando disputas entre Estados Unidos e Canadá por reservas hídricas já sobrecarregadas pela indústria e a agricultura, disseram especialistas da ONU na quarta-feira (11/04). A região deve sofrer mais ondas de calor, mais furacões e mais incêndios, segundo um novo relatório que detalha regionalmente os dados de um estudo do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática, divulgado no dia 6 em Bruxelas.
Incidentes climáticos já custam dezenas de bilhões de dólares por ano em perda de produtividade e danos a patrimônios na América do Norte, e essa cifra deve aumentar, segundo a ONU. O efeito mais visível do aquecimento no continente será em relação à água -- na forma de secas, enchentes urbanas e de uma briga pela água dos Grandes Lagos, que banham os EUA e o Canadá.
"A água foi uma questão em todas as regiões, mas de formas muito diferentes e em lugares muito diferentes", disse Michael MacCracken, editor-revisor do relatório, em entrevista telefônica. Ao contrário de outros continentes, a América do Norte não tem cordilheiras no sentido leste-oeste, que limitam as secas por obrigarem a umidade do ar que se move rapidamente a se precipitar na forma de chuva, segundo MacCracken, que trabalha no Instituto Climático, uma ONG de Washington.
As cidades também serão ameaçadas pelo degelo de glaciais, que eleva o nível dos oceanos. No final do século 21, enchentes graves, que só ocorrem em Nova York a cada 500 anos, passarão a acontecer a cada meio século, colocando grande parte da infra-estrutura regional em risco, segundo o relatório.
Já as secas se tornarão mais comuns no Meio-Oeste e no Sudoeste dos EUA, pois o calor evapora a umidade do solo. Isso deve diminuir em até 40 por cento a disponibilidade de recursos hídricos como o Aqüífero Edwards, no Texas, que abastece 2 milhões de pessoas. O Ogallala, aqüífero que abastece oito Estados, também pode ser atingido, segundo o estudo. MacCracken disse que em secas anteriores os agricultores da região usaram água dos aqüíferos para irrigar suas lavouras, o que complica a situação agora.
Sem lençóis freáticos, pode haver uma briga pelos recursos hídricos da superfície, como os Grandes Lagos, diz o relatório. Já houve incidentes por causa da transposição de águas dos lagos para cidades e fazendas distantes, e surgem cada vez mais propostas para uma canalização do rio Mississippi de modo a ajudar no abastecimento de grandes cidades dos EUA durante os verões. A tensão pode ser agravada pelo fato de a maioria da população canadense viver perto dos Grandes Lagos, enquanto apenas uma pequena proporção dos norte-americanos habita aquela área, segundo MacCracken.
(Por Timothy Gardner, Reuters, 11/04/2007)