Shyamal Mandal vive na beira da ruína. Na frente de sua pequena casa de lama está o resto do que uma vez foi sua vila nessa frágil ilha perto da Baía de Bengala. Metade dela afundou no rio. Somente poucas famílias ainda se mantêm perto da água, e aqueles que estão vivem cercados da lembrança da destruição inexorável: uma canoa abandonada pela metade, um coqueiro pendurado em um penhasco, os trabalhos remanescentes de um lago de peixes de uma família.
Tudo isso fica no meio da casa de Mandal e a água é uma represa lamacenta rudimentar, e não há como prever, ele confessou, quando pode cair tudo. “O que acontecerá depois, não sabemos”, ele disse, resumindo sua única certeza. A ilha Ghoramara ter afundado pode ser atribuído a uma confluência de desastres, naturais e humanos, e também ao aumento do nível do mar. Os rios que descem do Himalaia e deságuam na baía cresceu e mudou nas décadas recentes, colocando essa e o resto das ilhas delicadas conhecidas como Sundarbans na boca do perigo diário.
Certamente, a natureza teria forçado essas ilhas a mudar de tamanho e formato, afundando algumas, criando outras. Mas há poucas dúvidas, dizem os cientistas, que a mudança climática induzida pelo homem as tornou particularmente vulneráveis. Um estudo recente feito por Sugata Hazra, um oceanógrafo da Universidade Jadaypur, de Calcutá, descobriu que nos últimos 30 anos, quase 50 quilômetros quadrados das Sundarbans desapareceram completamente.
Mais de 600 famílias foram deslocadas, segundo autoridades do governo local. Campos e lagos estão submersos. Somente Ghoramara afundou para menos de três quilômetros quadrados, quase metade de seu tamanho em 1969, concluiu o estudo de Hazra concluiu. Outras duas ilhas desapareceram completamente.
Hoje, o aumento do nível do mar e a destruição das florestas ameaçam o habitante mais falado das Sundarbans, o tigre de bengala, que bebe essas águas salgadas e tem apetite por carne humana. Degradação ambiental também ameaça os residentes humanos: quatro milhões de pessoas vivem aqui no lado indiano da fronteira.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) prevê que o aquecimento global, estimulado pelo acúmulo de gases na atmosfera, pode elevar a superfície do oceano em 50 centímetros até 2100. Segundo o último relatório do painel, publicado no começo de abril, a ecologia e as pessoas desse sistema do rio estão entre os mais vulneráveis do mundo.
(Por Somini Sengupta, The