Desconexão de hábitats e o declínio global dos anfíbios
2007-04-12
Tipo de trabalho: Dissertação de Mestrado
Instituição: Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/SP)
Ano: 2007
Autor: Carlos Guilherme Becker
Resumo:
O nicho dos anfíbios muda drasticamente ao longo da ontogenia, forçando larvas e pós-metamórficos a ocuparem dois hábitats distintos. Em áreas desmatadas, sítios reprodutivos aquáticos e fragmentos florestais podem ser muito desconectados, isolando o hábitat dos girinos do hábitat dos adultos, em um padrão de fragmentação que chamamos de desconexão de hábitats. Neste estudo, avaliamos os impactos da desconexão de hábitats sobre os anfíbios (i) através de migrações reprodutivas e de padrões de abundância populacional dos anfíbios com larva aquática entre fragmentos com e sem riachos em uma paisagem fragmentada de Mata Atlântica; (ii) através do uso diferencial de hábitat por diferentes guildas nesta mesma paisagem; (iii) por meio de uma análise macroecológica avaliando o efeito da desconexão entre riachos e fragmentos florestais sobre anfíbios de serrapilheira ao longo de 13 pontos na Mata Atlântica. Em nível populacional, detectamos um forte padrão de migração dos anfíbios florestais com desenvolvimento larval aquático entre fragmentos sem riachos e os riachos da matriz de pastagem. Estas espécies foram dramaticamente mais abundantes em fragmentos com riachos do que sem riachos. A estrutura de comunidades variou consistentemente entre hábitats, sendo a guilda das espécies florestais de desenvolvimento larval aquático a mais prejudicada pela desconexão. Tratando-se de grande escala geográfica, a desconexão de hábitat foi o único atributo da paisagem afetando negativamente a riqueza de espécies com desenvolvimento larval aquático, enquanto que a perda de habitat teve influência negativa somente nas espécies com desenvolvimento direto. Estes resultados sugerem que paisagens com altas taxas de desconexão entre fragmentos florestais e sítios reprodutivos têm maior chance de sofrerem declínios populacionais, especialmente de anfíbios associados à floresta e com desenvolvimento larval aquático. Estratégias de conservação em qualquer país devem considerar o fortalecimento das leis, tendo em mente a importância das matas de galeria e a configuração de cada paisagem, minimizando a desconexão entre hábitats florestais e os sítios reprodutivos dos anfíbios.