Escassez de alimentos, ondas de calor, inundações e a migração de milhões de pessoas ocorrerão em toda a Ásia por causa das mudanças climáticas, disse na terça-feira (10/04), Rajendra Pachauri, presidente do painel de clima da Organização das Nações Unidas.
"O que projetamos é uma diminuição substancial na produção de cereais na Ásia, e haverá impactos desfavoráveis sobre o trigo cultivado com água da chuva no Sul e Sudeste da Ásia", disse ele em entrevista coletiva após a divulgação na sexta-feira de um relatório do Painel Intergovernamental da ONU para Mudanças Climáticas (IPCC), que reúne 2.500 cientistas de todo o mundo.
Segundo esse texto, o aquecimento global fará a Ásia receber menos chuvas, o que afetará a produção agrícola. "Haverá risco de fome e escassez de água", alertou Pachauri, que também dirige o Instituto de Energia e Recursos, uma das principais ONGs ambientais da Índia. De acordo com ele, basta um aumento de 0,5 graus nas temperaturas de inverno para que a colheita de trigo fique 0,45 tonelada menor por hectare - a produtividade atual na Índia é de 2,6 toneladas por hectare.
Centenas de milhões de pessoas que dependem do degelo dos glaciais no oeste do Himalaia também serão afetadas, disse ele, acrescentando que só na China serão 250 milhões de pessoas afetadas. Pachauri disse que o impacto em um país como a Índia, onde quase 70% da força de trabalho depende da agricultura, seria bastante sério, com enorme êxodo rural para as cidades, já sobrecarregadas.
"Uma vez que não conseguem manter sua subsistência, (os agricultores) claramente não têm escolha senão se mudar para cidades maiores", disse ele. "Isso significa maiores populações faveladas, sem infra-estrutura urbana adequada." Já o aumento do nível dos mares pode inundar as casas de milhões de pessoas em áreas baixas de Vietnã, Bangladesh, Índia, China e outros países, segundo o relatório.
Estima-se que o nível médio dos mares no final do século 21 seja 40 centímetros superior ao de hoje, e que o número anual de vítimas de inundações em áreas litorâneas passe de 13 milhões para 94 milhões na Ásia. Cerca de 60 milhões delas vivem no sul da Ásia, nas faixas litorâneas de Paquistão, Índia, Sri Lanka, Bangladesh e Mianmar, disse Pachauri. Cidades costeiras, como Mumbai e Calcutá, são extremamente vulneráveis, disse ele, sugerindo que elas melhorem sua infra-estrutura de drenagem e tratamento de água, já que a água disponível ficará mais salina.
(Reuters, 10/04/2007)