Os governos africanos não estão tomando medidas suficientes para atenuar os efeitos da mudança climática, denunciou nesta terça-feira (10/04), o diretor do capítulo sobre a África do recentemente divulgado relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
"Os governos da África não estão fazendo o suficiente", disse em entrevista coletiva em Nairóbi Anthony Nyong, que trabalha como especialista em mudança climática no Centro de Investigações para o Desenvolvimento Internacional de Nairóbi e coordenou o capítulo nove do relatório do IPCC, dedicado à África.
"Agora mesmo quase todo o dinheiro que se está sendo investido neste tema vem do exterior, não dos próprios governos africanos. É perigoso depender tanto da ajuda externa", acrescentou Nyong. "Os governos podem fazer mais e os cientistas têm que continuar gritando até que a mensagem seja levada em conta", concluiu.
O diretor-executivo do Pnuma - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Achim Steiner, afirmou que os governos africanos "custaram a entrar no debate sobre a mudança climática porque o continente não tem praticamente nenhuma responsabilidade no fenômeno, já que mal emite dióxido de carbono".
"No entanto, será um dos continentes mais afetados pelas conseqüências e após a publicação do último relatório do IPCC podem começar a fazer contas do quão caro vai custar se não fizerem algo a respeito", acrescentou Steiner. O segundo volume dos quatro que compõem o relatório do IPCC, a máxima autoridade científica sobre mudança climática composta por especialistas de todo o mundo, foi divulgado no último dia 6 em Bruxelas.
Com uma economia baseada na agricultura, a África é o continente que menos contamina do mundo, mas será o mais afetado pelos efeitos da mudança climática como secas, inundações, crises de fome derivadas da menor produção agrícola e conflitos pelos recursos. O IPCC faz uma projeção de que as temperaturas na África poderiam aumentar entre 3ºC e 4ºC entre 2080 e 2099.
O documento alertou que como conseqüência de tal aumento de temperaturas, as secas nas zonas áridas e semi-áridas do continente podem aumentar em 8%, e a receita derivada da agricultura cairá em 90% no final do presente século. As geleiras do monte Kilimanjaro, o pico mais alto da África, poderiam desaparecer totalmente em 2020, e entre 10% e 15% dos animais em 141 parques nacionais africanos estarão em risco de extinção em 2050.
As conseqüências da mudança climática na África também farão com que insetos como o mosquito que transmite a malária possam viver em altitudes mais elevadas, estendendo a doença a regiões onde atualmente não existe e acrescentando 80 milhões de pessoas à população atualmente em risco.
Frente a este panorama, "a única opção possível é a adaptação", opinou Andrew Githeko, responsável pela Unidade de Clima e Saúde do Instituto Queniano de Investigação Médica, e outro cientista africano a participar do relatório do IPCC. Githeko lembrou que se as emissões mundiais de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases que causam o aquecimento terrestre, fossem eliminadas hoje totalmente, "ainda seria preciso se adaptar à mudança climática que acontecerá daqui até o final do século".
Isso acontece porque o CO2 permanece na atmosfera por cem anos, por isso que as mudanças derivadas de todas as emissões lançadas à atmosfera no passado já são inevitáveis. Para o cientista, os governos africanos devem ter como prioridade tomar medidas para se adaptar às alterações, já que o custo de fazê-lo será sempre muito inferior ao de responder às secas, inundações e outras conseqüências da mudança climática previstas para a África.
(Efe, 10/04/2007)