Um compromisso do Brasil para aumentar a eficiência energética ajudará a aumentar a competitividade da indústria nacional, avalia o professor Roberto Schaeffer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um dos autores do relatório para o governo alemão e de outros estudos para entidades internacionais na área de energia.
Schaeffer nota que as indústrias de exportação, incluindo papel e celulose, siderurgia e alumínio, são muito eficientes. Mas que o grosso da indústria doméstica, beneficiada por tarifa baixa, é ineficiente no uso da energia e no uso de calor.
"Muitas indústrias poderiam se apropriar do calor e co-gerar eletricidade para sua própria usina", dando o exemplo do setor sucroalcooleiro, que queima o bagaço.
Para o professor, o país tem uma série de gargalos legislativos, que dificultam o empreendedor a ser eficiente no setor energético e nem oferece recompensa para isso.
Schaeffer estima que a energia elétrica não chega a 5% dos custos das empresas e que não é por razões de custos que o industrial investe em energia. "Ele só investe se tiver outros benefícios, como aumentar a qualidade do produto, modernizar a planta. O retorno pela produção é maior do que o retorno pela redução de custos."
No setor residencial, ele aponta inexistência de obrigações de eficiência elétrica mínima para construir um prédio, por exemplo. "Aqui se consome a energia eletrica que se queira, enquanto em muitos países é em função da área construída, por exemplo''.
Um dos absurdos no país está nas avenidas mais caras do Rio de Janeiro, com prédios de frente do mar pretos, fechados com dezenas de ar condicionado. "O modelo construtivo brasileiro não estimula poupança. Quando gasta mais energia para fazer o prédio funcionar, mais queima as florestas, carvão etc".
Nesse cenário, o especialista não tem duvidas de que um compromisso no G-8 é importante. "Os países do G-5 precisam se conscientizar, não de dinheiro. O problema da ineficiência energética é má administração."
Para o Brasil, um plano ambicioso nessa área ajudará a reduzir a importação de diesel, de um lado, e aumentar o excedente de petróleo que pode exportar de outro. Além disso, ele acha que terá impacto grande no setor elétrico, aumentando a confiabilidade no sistema. "Aumentar a eficiência da energia no Brasil reduz essa dificuldade ambiental de licenciar novas usinas na Amazônia. É mais uma ajuda para depender menos da Amazônia e aumentar a competitividade da industria brasileira."
(Valor Econômico, 10/04/2007)