Em 2050, a geografia brasileira será bastante distinta da que conhecemos hoje. O resultado mais visível do aquecimento global na região em que o Brasil está situado deve ser a substituição progressiva da floresta tropical úmida, a Amazônia, por uma espécie de vegetação menos rica e estável que a savana, a vegetação rasteira da África e semelhante ao cerrado.
O relatório final do Grupo Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado na tarde de sexta-feira, 6/4, não aborda o quanto deverão ser elevadas as temperaturas para que a substituição se efetive, mas especialistas estimam que a variação de 2°C a 3°C poderá ser determinante para perdas que poderão variar de 30% a 60% da floresta. A alteração teria como efeito a redução drástica da biodiversidade. Hoje, ao menos 40 mil espécies vegetais e 427 de animais são classificadas na região.
As alterações na floresta também teriam impactos na estrutura hidrológica da região, um fator de equilíbrio do clima em toda a América Latina. A redução da cobertura vegetal reduzirá a emissão de umidade, alterando a freqüência e a intensidade das chuvas em grande parte do continente. Com isso, o nível dos rios também sofrerá rebaixamento e um volume menor de água doce desaguará no Oceano Atlântico, modificando a correlação de correntes marítimas, que também induzem a formação de massas de ar.
Para o climatologista brasileiro Carlos Nobre, autor de projeções sobre a savanização, a inclusão deste texto "reforça ainda mais as políticas públicas para Amazônia" e amplia a responsabilidade pela conservação do bioma. "Não adianta somente reduzir o desmatamento."
Além da Amazônia, o relatório do IPCC cita a tendência à desertificação das regiões semi-áridas da América do Sul, a exemplo do sertão nordestino. As novas áreas secas e semi-áridas sofrerão de salinização do solo e perderão em capacidade produtiva, ampliando o risco à segurança alimentar.
Com redução dos recursos hídricos, desde acesso à água potável e irrigação até a exploração energética de grandes bacias, o colapso em uma sociedade não adaptada seria não apenas social, mas também econômico. Enquanto regiões ao norte e ao nordeste brasileiro sofreriam com a seca, os centros urbanos litorâneos passariam a enfrentar risco de cheias e inundações imprevisíveis.
Embaixador
O Ministério das Relações Exteriores escolheu o embaixador que será designado para tratar de assuntos relacionados ao aquecimento global. A função será exercida pelo embaixador Sérgio Serra, que está em processo de desligamento da embaixada do Brasil em Wellington (Nova Zelândia). Ainda não está definido, no entanto, quando Serra assumirá o posto.
A designação de Serra para o cargo é um reflexo da atenção crescente que o País vem dispensando ao assunto, que agora também passa por questões estratégicas como economia e transferência de tecnologias.
(O Estado de São Paulo, 07/04/2007)