A polêmica do álcool, que ganhou destaque nesta semana após as críticas do presidente cubano Fidel Castro, chegou de surpresa na reunião do IPCC ontem (6/4), devido à intervenção do climatologista argentino Osvaldo Canziani. Co-presidente do grupo de trabalho que apresentou ontem seu relatório -no qual não há menção ao etanol- , Canziani surpreendeu a platéia ao criticar a atual ênfase nos benefícios dos biocombustíveis, citando especificamente o caso do Brasil.
"A maior preocupação da América Latina são os produtores de biocombustíveis. Sou crítico porque sei como eles são produzidos, as monoculturas que são feitas são destrutivas."
Canziani também afirmou que o recente interesse dos EUA na questão dos biocombustíveis é apenas um subterfúgio, já que o país não é signatário das reduções de emissões de CO2 estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto.
José Miguez, representante do Ministério da Ciência e Tecnologia, que participou da reunião em Bruxelas, afirmou que desconhecia a posição de Canziani sobre o álcool, já que o assunto não foi debatido.
"Isso não está nesse relatório, faz parte da mitigação, de que vamos tratar no próximo texto", disse Miguez, referindo à reunião do IPCC na Tailândia no final deste mês.
"Não sei por que ele está falando isso, possivelmente não conhece o que é feito com biocombustível no Brasil", disse Miguez. "Estamos em uma posição singular em termos de efeito estufa justamente por causa das fontes renováveis de energia."
Declarando-se "paulista de adoção", Canziani afirmou que conheceu bem o Brasil durante os 25 anos que trabalhou como consultor da Organização Meteorológica Mundial.
"Conheci a célula da Mata Atlântica, que não existe mais, conheci o Amazonas, Mato Grosso, onde não há mais nada, porque plantaram soja para exportação, e agora, com os biocombustíveis, será terrível."
O argentino também é crítico em relação a seu país, onde "a soja domina e o trigo para o pão se acaba", e acusa os políticos.
(Folha de São Paulo, 07/04/2007)