Apesar da magnitude do problema e da preocupação que os relatórios do IPCC geraram no governo brasileiro, não existe paralisia por parte do país diante do aquecimento global, afirma a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. "O Brasil não foi pego desprevenido. Nós tivemos o empenho que o fato exige", disse ela à Folha.
Marina cita uma série de ações para justificar sua argumentação. "Em 2003, já cientes do problema, lançamos oito editais para a realização de estudos técnicos e científicos, que acabaram de ser publicados. O Brasil tem o seu plano de recursos hídricos, o plano contra o desmatamento, contra a desertificação e o seu programa de biocombustíveis", disse.
O número de ações é tão expressivo, segundo Marina, que ela já conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que isso seja reunido em um plano nacional de enfrentamento das mudanças do clima.
Para a ministra, nem o Brasil, nem nenhum país do mundo está hoje totalmente preparado para enfrentar o tamanho do desafio climático. "A região mais vulnerável do Brasil é o semi-árido. Na Amazônia, o problema também é grande".
Barco de gelo
Apesar de o aquecimento global só poder ser desacelerado no longo prazo e se a redução das emissões de carbono começar agora, a ministra não acha que o Brasil deva assumir metas obrigatórias de corte.
O país hoje, pelo Protocolo de Kyoto, não tem obrigação de diminuir suas emissões, diferentemente do que ocorre com os países mais ricos.
"Como o barco é de gelo, ninguém deve ficar advogando o direito de continuar esquentando o barco, porque, caso contrário, todos vão afundar".
O discurso da ministra tem endereço certo. Para ela, os americanos continuam advogando o direito de cometer erros, "como os europeus fizeram no passado".
Para Marina, o Brasil já tem de ocupar uma posição de vanguarda agora, para que esse posicionamento internacional continue em 2013, ano em que começa a segunda fase do Protocolo de Kyoto.
"As propostas devem ser feitas a partir do que existe hoje. Os países ricos apresentam muitas idéias para a redução das emissões, mas é o Brasil que tem quase 45% de sua matriz energética renovável".
Biocombustíveis
Os investimentos em combustíveis menos sujos também foram exaltados ontem pela representante do escritório de política de ciência e tecnologia da Casa Branca.
Para Sharon Hays, o plano do governo americano de reduzir em 20% o uso da gasolina na próxima década é uma prova cabal de que o país está também bastante preocupado com o aquecimento global.
O secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, também se diz preocupado com o que os governos vão fazer a partir de agora. "Medidas adequadas de adaptação têm o potencial de aliviar as piores conseqüências mostradas no relatório. Mas elas precisam ser rápidas."
(Por Eduardo Gerarque, Folha de São Paulo, 07/04/2007)