Quando os preços do petróleo dispararam em 2001, fazendo soar alarmes por todo o mundo, Ricardo Asturias viu nisso uma oportunidade.
Asturias: “As fontes renováveis de energia revolucionarão a agricultura em nossos países”.
Empreendedor com extensa experiência nos ramos da agroindústria e do petróleo, Asturias, de 55 anos, compreendeu de imediato que os preços mundiais muito altos do petróleo tornavam os combustíveis alternativos mais atraentes para os consumidores. Isso significava que a produção de biocombustíveis - que são derivados de matéria orgânica em vez de petróleo - poderia, finalmente, ser lucrativa.
O combustível que ele tinha em mente seria produzido a partir do óleo vegetal extraído do fruto não comestível do pinhão-manso, uma pequena árvore nativa da Guatemala. Conhecido cientificamente como Jatropha curcas, o pinhão-manso é usado habitualmente no país para cercas vivas, por conter uma substância química que repele o gado, mas não tinha outros usos até agora. Em outros países, o pinhão-manso é conhecido como “pinhão-de-purga”, sendo utilizado para fins medicinais e para a fabricação de sabões e velas.
O pinhão-manso, matéria-prima de biodiesel, também evita a erosão e o desmatamento.
Asturias tinha conhecimento de que experiências com diferentes variedades de pinhões como fonte de energia renovável estavam em andamento no mundo todo. Ele soube que a Índia já produzia volumes substanciais de Jatropha como biocombustível e que veículos de transporte público em Seattle e outras cidades norte-americanas estavam usando combustível biodiesel derivado da soja e de outros produtos vegetais.
Da idéia à realidade. O desafio de Asturias era converter sua idéia num empreendimento lucrativo. Para isso, precisava de ajuda. Ele a obteve na forma de uma concessão de US$5.000 para a preparação do projeto, oferecida pelo Programa de Apoio à Inovação Tecnológica da Guatemala, que é dirigido pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CONCYT). Outra concessão do CONCYT, no valor de US$7.500, destinou-se ao projeto de uma usina de biodiesel. Posteriormente, ele recebeu uma concessão de US$54.000 do Fundo Competitivo de Desenvolvimento Tecnológico Agroalimentar da Guatemala para testar a composição genética e a capacidade de produção de diferentes variedades de Jatropha, e ainda outra concessão de US$110.000 da Finlândia para aquisição de terras destinada à produção e testes genéticos com a planta.
Depois que ele e um grupo de sócios investiram mais US$1,5 milhão, sua empresa, a Octagón, construiu uma usina, operada por sete funcionários, que está produzindo 600 galões de biodiesel por dia, numa área industrial localizada 33 quilômetros ao sul da capital. Em outro ponto na área rural de Retalhuleu, uma cidade que fica 190 quilômetros a sudoeste da capital, ele está realizando experiências com 50 variedades de Jatropha para identificar quais são as melhores para a produção.
“A Jatropha das ilhas de Cabo Verde é a melhor”, diz ele. “Ela é produtiva, e a árvore é baixa, o que facilita a colheita dos frutos.” Asturias emprega também cientistas para testar a qualidade do biodiesel produzido em sua usina e a eficácia de diferentes procedimentos de produção, como mistura, aquecimento e purificação do óleo. Inicialmente, ele aquecia o óleo vegetal por meio de energia solar antes de processá-lo em biodiesel. Agora, está usando vapor geotérmico, obtido da atividade vulcânica no solo sob a fábrica.
Asturias vende o biodiesel para diferentes compradores, interessados principalmente em testar seu potencial com vários tipos de motores. Ele prevê que a usina gerará lucros dentro de um ano, quando puder produzir combustível numa escala muito maior. A operação agroindustrial como um todo, que inclui a produção de Jatropha e a usina, precisa de um investimento maior e de quatro anos para se tornar lucrativa, segundo seus cálculos. Sua grande preocupação agora é adquirir terras suficientes, principalmente por meio de arrendamento, para plantar uma grande quantidade de Jatropha, e financiar os investimentos iniciais para começar a produção agrícola em larga escala. Ele calcula que precisa levantar mais US$10 milhões no total.
Prêmio ambiental
A comissão ambiental da Secretaria do Sistema de Integração Centro-Americana concedeu a Asturias um prêmio, por inovação ambiental, pela identificação do pinhão-manso como uma fonte viável de energia renovável. Asturias contou que percebeu que a planta tinha potencial depois de estudar uma espécie importada de Jatropha quando era consultor do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura. “Ficamos surpresos ao descobrir que aquela planta era o pinhão-manso, um velho conhecido nosso na Guatemala”, diz ele.
Técnicos testam amostras de combustível na fábrica de biodiesel.
Asturias está confiante em que o pinhão-manso e outras fontes renováveis de energia são alternativas que “revolucionarão a agricultura em nossos países”. Ele diz que o pinhão-manso é uma fonte de combustível não contaminante que também evita a erosão e o desmatamento. Os altos preços do petróleo e a crescente escassez de hidrocarbonetos “tornarão o biodiesel muito lucrativo”, acrescenta ele.
O BID apóia projetos ambientais e de energia renovável em toda a América Latina e no Caribe, assim como a transferência de novas tecnologias para o setor privado, tanto urbano como rural, para o desenvolvimento de pequenas e médias empresas. Em 1999, o Banco aprovou um empréstimo de US$10,7 milhões para a CONCYT destinado a fortalecer o sistema de inovação tecnológica da Guatemala e ajudar a transferir tecnologia para as pequenas empresas. Durante o ano anterior, o BID apoiou a AGROCYT com financiamentos de US$12,5 milhões, parte de um pacote de empréstimos de US$33 milhões para o Ministério da Agricultura, com a finalidade de fortalecer a competitividade do setor agrícola e alimentício.
(Por Daniel Drosdoff, BID/Rios Vivos, 05/04/2007)