O projeto Lobos da Canastra, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisas para a Conservação de Predadores Naturais (Cenap/Ibama), em parceria com a Ong Instituto Pró-carnívoros, comemora os resultados inéditos na mais completa investigação sobre o lobo-guará já feita no país. Para realizar os estudos foram feitas até o momento 200 capturas entre os 35 animais monitorados.
Durante o mês passado, pela primeira vez coletou-se sêmen de lobos-guarás na natureza. A proeza já havia sido realizada em zoológicos, mas nunca em animais em vida livre. Os pesquisadores verificam se a espécie consegue repor – por meio de uma reprodução saudável – os animais que morrem por diversos motivos.
Outra descoberta científica inédita resultou da análise minuciosa das taxas hormonais dos animais capturados. Observou-se que os que habitam áreas de fazendas – e assim sujeitos aos mais diversos impactos em seu dia a dia, sofrem grande stress, refletido em sua fisiologia, diferente dos animais que vivem dentro do parque nacional. Isso corrobora a necessidade de áreas protegidas para assegurar a saúde de animais selvagens.
A expectativa para este ano é que o projeto Lobos da Canastra colha informações mais precisas sobre o passo a passo dos lobos, já que agora alguns indivíduos transitam entre as áreas do parque e das fazendas da região com novos colares equipados com GPS. Tal tecnologia permite a localização exata dos animais a cada duas horas. As novas e complexas informações que o equipamento fornecerá, podem embasar novas ações para animais que não podem contar com áreas protegidas no resto do país.
Mais uma novidade do projeto foi o início do programa de educação ambiental relacionado à conservação do lobo e do cerrado. Uma das ações executadas pelos pesquisadores envolveu a instalação de galinheiros-modelo em dez fazendas selecionadas para evitar ataques de aves domésticas por predadores. Na maioria das fazendas da região da Serra da Canastra, proprietários reclamam do alto índice de predação de suas criações, responsabilizando o lobo-guará pelas mortes.
No entanto, pesquisa que teve início nas fazendas ao fim de 2006 mostrou aos criadores de galinhas e afins que existem muitos outros animais que atacam o plantel. Mas, como uma das metas do projeto é encontrar soluções para que esses conflitos não ocorram mais e, assim, lobos não sejam mortos por falsas alegações, os galinheiros foram construídos com o fim de evitar novos ataques de predadores.
O projeto Lobos da Canastra foi criado em 2004 e é desenvolvido por 12 pesquisadores do Cenap/Ibama e do Instituto Pró-Carnívoros na área do Parque Nacional da Serra da Canastra e entorno. O projeto visa a conservação da espécie e tem como meta principal levantar informações suficientes para subsidiar ações que diminuam os impactos nas suas populações no Brasil e em outros países.
As novas descobertas científicas e resultados positivos do projeto Lobos da Canastra são presentes de grande valor ao Parque Nacional da Serra da Canastra, que completa 35 anos neste ano, e mostra que vem cumprindo ao longo do tempo um papel importantíssimo na conservação não somente do lobo-guará, mas também de outras espécies.
(Por Rogério Paula, Ibama, 05/04/2007)