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2007-04-06

Depois de uma semana de reuniões em Bruxelas, os mais de 400 cientistas que participaram da segunda parte de um relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) concluíram que mais de 1 bilhão de pessoas poderão sofrer com a falta de água a partir de 2020 e que as populações mais pobres do mundo serão as mais afetadas pelo aquecimento global. A principal causa será o derretimento precoce da camada de gelo de grandes cadeias de montanhas, como o Himalaia e os Andes, causado pelo aumento da temperatura na Terra.

Elas funcionam como reservatórios, acumulando água em forma de gelo durante o inverno para liberá-la gradualmente com o derretimento no verão - um processo natural fadado a terminar, pois, segundo os cientistas, o derretimento já começou. O relatório aponta que as montanhas Chacaltaya, na Bolívia, perderam quase toda a capa de gelo em 2004. Até o final do século, 75% do gelo dos Alpes também pode ter desaparecido. Com a aceleração também do derretimento do gelo polar, as regiões costeiras e baixas serão inundadas, obrigando comunidades inteiras a se deslocarem.

Biodiversidade
O relatório também prevê que, se a temperatura global subir mais de 1,5º em relação aos índices de 1990, os ecossistemas regionais mudarão ao ponto de levar à extinção de cerca de um terço das espécies de animais e plantas do planeta. O rendimento dos cultivos agrícolas e da pecuária também serão afetados, principalmente na África e Ásia.

“Atualmente há cerca de 900 milhões de pessoas passando fome no mundo e esse número deve aumentar por causa da mudança climática”, disse Martin Perry, co-presidente do grupo de trabalho responsávelpela segunda parte do relatório. A malnutrição, por sua vez, contribuiria com o aumento da incidência de doenças nas regiões mais pobres do mundo. “Reduzir a vulnerabilidade da população em relação a saúde e desnutrição é o mais importante que deve ser feito pelos países em desenvolvimento”, completou.

Segundo os cientistas, o cenário mundial já começou a sofrer modificações por culpa do aquecimento global e as sociedades deverão enfrentar grandes dificuldades para se adaptar a seus impactos. Medidas para a adaptação das sociedades poderão “reduzir ou atrasar as implicações da mudança climática pelos próximos 10 ou 15 anos”, mas “não serão suficiente para fazer frente a todos os impactos esperados do aquecimento global a longo termo”, alerta o documento.

Relatório
De acordo com a ONU, as regiões que sofrerão mais consequências da mudança climática serão o Ártico, a África subsaariana, as pequenas ilhas, e os deltas asiáticos. O Brasil e a América Latina não são consideradas regiões de alto risco. A segunda parte do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) analisa as implicações do aumento de temperatura da Terra em diversas áreas, como economia, ecossistema e saúde humana. O documento é resultado de uma semana de debates entre 400 especialistas sobre 28 mil dados científicos copilados sobre todo o planeta.

O relatório está sendo lançado em quatro partes ao longo deste ano. Na primeira parte, divulgada em fevereiro em Paris, os cientistas projetaram um aumento de até 4º C na temperatura da Terra até o fim deste século e culparam o homem pelo aquecimento global. Em maio, na Tailândia, o IPCC divulgará a terceira parte, que abordará as formas de impedir o aumento da concentração de gases nocivos ao ambiente.
(Por Márcia Bizzotto, BBC, 06/04/2007)


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