O representante do Greenpeace Luís Piva disse ontem (4/4) que o impacto do aquecimento global no Brasil será sentido de forma diferente nas regiões do país. No Nordeste, por exemplo, uma das conseqüências será o agravamento da desertificação, enquanto que no Sudeste será a elevação do nível do mar.
Vários estudos sobre a vulnerabilidade do Rio de Janeiro ao aumento do nível do oceano vêm sendo feitos por pesquisadores da Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo Luís Pinguelli Rosa, coordenador da área de energia da COPPE e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, se a projeção de aumento do nível das águas se confirmar, a Baixada Fluminense sofrerá as conseqüências mais graves.
”O problema mais grave é o das enchentes. No caso das praias, é possível fazer uma proteção colocando mais areia retirada do fundo do mar. Isso alarga as praias e o mar recompõe o litoral", disse. "Nas áreas de baixada, haverá um problema de escoamento de água se houver chuvas intensas combinadas com marés muito altas. Se ocorrer o pior caso dessa combinação, haverá problemas em áreas da Baixada Fluminense, que são habitadas por populações pobres”.
Ele diz que um estudo sobre as regiões costeiras faz parte de um conjunto de sugestões que serão enviadas pelo fórum na próxima semana, à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para contornar esses problemas, Pinguelli sugere ao país buscar soluções de engenharia e até mesmo a remover parte da população das áreas afetadas. “É preciso fazer um estudo de engenharia cuidadoso para prever obras de proteção, como diques, ainda assim, uma parte da população terá que ser removida de áreas onde haverá inundações exageradas. Mas isso em um universo de 100 anos”.
Ele destacou que as projeções dependem de como avançará o aquecimento global. “Se houver medidas para diminuir as emissões de gases, que hoje são muito altas, podemos melhorar a previsão, mas poderá haver também o pior, efeitos mais graves até”.
Na opinião dele, o governo federal, estadual e municipal precisam providenciar as medidas de engenharia necessárias à proteção da população. “Conter o aquecimento é um assunto mundial; o Brasil tem sua parte, mas é um assunto global. Agora, a adaptação é um assunto local”.
Pinguelli avalia que estudos de vulnerabilidade semelhantes aos realizados no Rio devem se estender a outros locais, como Belo Horizonte (MG), Vitória (ES) e Salvador (BA).
O aquecimento global está em debate esta semana Bruxelas, na Bélgica, por cientistas e representantes de governos de 120 países que integram o painel Inter-governamental Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU).
Amanhã, o grupo divulga um relatório atualizado sobre a vulnerabilidade da humanidade e dos sistemas naturais às mudanças climáticas previstas para o planeta nas próximas décadas.
(Por Adriana Brendler, Agência Brasil, 04/04/2007)