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2007-04-05

Imagine Fortaleza com toda sua bela orla.  Pontos turísticos como Praia de Iracema, o calçadão da avenida Beira Mar. Os edifícios suntuosos com apartamentos que valem mais de R$ 1 milhão no bairro Meireles. A Praia do Futuro, suas barracas e áreas para esportes.  Estas são algumas das regiões mais valorizadas da cidade.  Agora imagine essas áreas e outras, como Pirambu e Barra do Ceará, cobertos pelo mar. Segundo cientistas, este é um cenário distante, mas bem provável, de como deverá ficar a cidade nas próximas seis décadas.

Para o professor Luiz Drude de Lacerda, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), embora ainda não existam estudos avaliando os impactos que Fortaleza teria com a elevação de 30 a 80 centímetros do nível do mar nos próximos 50 a 80 anos, é possível prever alguns. "Como o sistema de esgotamento sanitário funciona por elevação para ser escoado, a invasão do mar acabaria pondo em colapso todo o sistema.  Áreas com poços de água doce também seriam prejudicados, pois seriam salinizados", explica Drude.  O professor lembra que outras regiões da cidade seriam atingidas.  "Os rios Cocó e Ceará ajudariam a levar essa água mais para dentro da cidade", destaca o pesquisador.  Um aumento em centímetros pode parecer pouco, mas é o suficiente para alagar regiões planas.

Esses são apenas alguns dos sintomas que podem ser percebidos com a elevação do nível do mar, provocado em grande parte pelo aquecimento entre 3º C e 5º C da temperatura da Terra.  Neste ambiente mais quente, o gelos nos pólos da Terra derretem e o próprio aquecimento eleva o volume de água nos mares.  Segundo o estudo "Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade", divulgado no início de março pelo Ministério do Meio Ambiente, "uma elevação de 50 centímetros do oceano Atlântico poderia consumir 100 metros de praia no Norte e Nordeste", informa o relatório.

Isso faria com que aproximadamente 42 milhões de pessoas (25% da população nacional), que vivem em regiões costeiras, sejam afetadas.  Somente nas principais cidades litorâneas como Recife (PE), Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA), e em Belém (PA) - por conta da proximidade da praia e da elevação dos rios, onde vivem em torno de 22 milhões de pessoas, um número considerável tenha de se deslocar cada vez mais para o interior dos estados.

O problema é que o Interior também acabaria afetado pelo aquecimento da temperatura global.  A falta de água doce se agravaria, provocando migrações para áreas com condições mais habitáveis.  De acordo com o estudo do MMA, a seca e o avanço das águas sobre as praias acabariam por criar uma nova classe, os "refugiados ambientais", famílias que não terão condições de se manterem em regiões adversas.  "Muitos pesquisadores acabam não dando a devida atenção aos fatores ambientais como responsáveis pela expulsão humana de alguns locais", lamenta Drude.

Justamente o semi-árido é a maior preocupação de Alexandre Araújo Costa, pesquisador da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). A desertificação, impulsionada pela elevação da temperatura global, poderia sair de pontos locais e atingir áreas regionais.  "Atualmente os locais que mais preocupam no Ceará são o sertão dos Inhamuns e o Sertão Central, pontos mais vulneráveis à desertificação", diz Alexandre.

Segundo Alexandre, a mudança de temperatura seria mais sentida na região próxima à linha do Equador, em áreas como América do Sul e África. Na Ásia, a tendência é que o aquecimento intensifique as chuvas torrenciais na região. Continentes como Europa e América do Norte também sofreriam o impacto, mas ele seria mais atenuado. "É o clima determinando mais problemas justamente para as regiões mais pobres do mundo", sentencia Alexandre.

Duas hipóteses aceitas
Existem duas hipóteses mais aceitas de como serão as chuvas na região Nordeste daqui há 60 anos.  Destes, o estudo mais aceito é que vai chover entre um e dois milímetros a menos por dia.  Como o período da quadra invernosa vai de fevereiro a maio, a redução no total poderia ser de 180 milímetros, na pior da hipóteses.  No Ceará, por exemplo, que possui uma precipitação anual é de 800 milímetros, isso significaria uma perda de aproximadamente 20% do volume de chuvas.

Continuando o quadro mais pessimista do clima no Ceará nas próximas décadas, a elevação de 3º Celsius no clima global acabaria aumentando a quantidade de água cedida para a evaporação.  Atualmente, ela já está em 2.000 milímetros (dois metros) anuais.  Como já chove menos (800 milímetros) do que evapora (dois metros), a tendência é piorar a situação de abastecimento, que já está abaixo dos 15 litros diários por pessoa em algumas localidades.

Na outra hipótese considerada para o clima, o aquecimento global acabaria gerando um acréscimo no volume de chuvas, entre um e dois milímetros, por conta da evaporação das águas oceânicas.  O problema, destaca Alexandre, é que estas chuvas não necessariamente seriam em áreas secas "Além disso, o período de chuvas seria em um espaço de tempo menor e as precipitações seriam mais fortes, ocasionando mais enchentes", destaca Alexandre Araújo Costa, pesquisador da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

O aquecimento aproximado de 3º a 5º Celsius em seis décadas, segundo estudos, também pode comprometer a produção de mamona e agriculturas de sequeiro, como o milho, no Nordeste.  De acordo com Alexandre Costa, como a produtividade está diretamente associada à regularidade e duração das chuvas, todo o sistema acabaria prejudicado.  "Pode ser que a gente esteja diante de uma condição que inviabilize a cultura da mamona, que está começando", completa o pesquisador.

Expectativas para os próximos anos

- Uma elevação em 50 centímetros no nível do oceano Atlântico faria com que o mar entrasse aproximadamente 100 metros no litoral brasileiro.

- Áreas atualmente consideradas nobres, como Praia de Iracema, Meireles e Praia do Futuro seriam invadidas pelo mar. Portos e construções como edifícios ficariam inviabilizados.

- Um dos maiores problemas sociais aconteceria com o fracasso do sistema de esgotamento sanitário, que tem de ficar acima do nível do mar para funcionar.

- Atualmente, em torno de 42 milhões de pessoas já moram em cidades litorâneas do Brasil

- Em algumas regiões, o crescimento de áreas de mangue já é um indicativo de que o mar está avançando cada vez mais no litoral.  Com isso, áreas que possuem poços de água doce ficaram tomadas por água salobra, imprópria ao consumo.

- No Interior, o aumento entre 3ºC e 5ºC levaria ao fim de várias culturas tradicionais, como o milho, e poderia dificultar novas espécies que estão sendo introduzidas no semi-árido, como a mamona.

- A precipitação cairia dos atuais 800 milímetros por ano no Estado, para aproximadamente 600, uma redução estimada em 20%.  As chuvas também cairiam em um período de tempo menor e seriam mais intensas, ocasionando as enchentes.

- A evaporação, atualmente em 2.000 milímetros por ano, também aumentaria, gerando ondas de ar quente na região Nordeste.

- A vegetação da caatinga, já esparsa, ficaria ainda mais seca e poderia mesmo desaparecer em algumas regiões.

Mais áreas de mangue
Ao contrário do que muitos podem pensar, as áreas de mangue aumentaram mais de 30% no espaço de 28 anos em todo o Nordeste.  Segundo o professor Luiz Drude Lacerda, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar - VER), isso represente um ganho real de 180 quilômetros de 1978 a 2004.  Somente no Ceará, o ganho foi de 40 quilômetros.  Atualmente, são mais de 64 mil hectares de mangue no Nordeste, e a tendência é de crescimento.  Do ponto de vista ambiental, o fenômeno é benéfico.  "Muitos peixes e outros animais como caranguejos e siris se reproduzem nessas áreas, gerando acréscimos em toda a cadeia alimentar", completa Drude.

O problema é que o crescimento dos manguezais já é uma conseqüência da invasão das águas do mar sobre os leitos dos rios, provocando erosões nas áreas e o aumento de regiões alagadas com água salgada, as condições ideais para os mangues.  "Fomos estudar os motivos desse acréscimo.  Sabíamos que, como a maioria dos rios do Nordeste sofre barramento para o abastecimento, eles acabam chegando com menos força ao mar, perdendo gradativamente terreno", explica.  "O problema é que esse fenômeno foi verificado em 40% das áreas estudadas", completa.  Os outros 60% de área de mangue não eram próximas aos rios, uma prova, segundo o professor, de que a entrada do mar foi induzida por variações climáticas globais.  "Vemos várias gerações de mangues, umas bem próximas às outras, e o avanço é rápido", diz Drude.
(Por Marcos Cavalcante, O Povo - CE, 04/04/2007)


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