Especialistas acreditam que as manchetes que apresentam o aquecimento global como "catástrofe", "desastre" ou "cataclismo" estão desestimulando ações para se mitigar o problema e dando a impressão de que a situação já está grave demais para ser atacada.
Cientistas climáticos reunidos em Bruxelas estão prestes a alertar o mundo sobre o aumento da fome da África, elevação dos oceanos, extinção de espécies e do derretimento das geleiras do Himalaia no relatório de 6 de abril sobre os impactos regionais das mudanças climáticas.
Mas o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), que reúne mais de 2.500 cientistas, não usa essas palavras para resumir as previsões – diferente de alguns políticos ou editores de jornais, que descrevem as mudanças climáticas como "crise", "horrorizante" ou "Armagedom". “Eu estou um pouco preocupado com a mídia, que todo dia contribui publicando uma manchete apocalíptica, então, daqui a seis semanas, vai declarar histeria e mudar”, diz Achim Steiner, líder do Programa Ambiental da ONU.
Steiner ainda diz que considera correto usar palavras como “catástrofe” para descrever efeitos como um aumento projetado nos níveis do mar nos próximos séculos que poderia inundar estados nas ilhas do Pacífico ou cidades de Xangai a Buenos Aires. “É legítimo utilizar estas palavras em cenários específicos”, disse à Reuters. “Mas isso significa que todo o debate climático deva ser tratado como desastre? Não, porque nós acreditamos que podemos fazer algo para mudar essa situação”, completa.
Executivos da ONU dizem que o IPCC quer evitar alegações alarmantes em seus relatórios ao relacionarem os gases do efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis com o aquecimento. Isso significa que muitas pessoas precisam de um dicionário para ler os relatórios do IPCC. A principal conclusão do órgão no seu relatório de fevereiro é de que há mais de 90% de probabilidade de que a humanidade seja culpada pelo maior aquecimento global desde 1950.
(Traduzido por Sabrina Domingos, CarbonoBrasil, Reuters, 04/04/2007)