O aquecimento global não está só descongelando as geleiras e secando os rios. Segundo teorias de alguns pesquisadores, o aquecimento global está, além de tudo, tirando milhares de pessoas de sua terra natal: estima-se que milhões de emigrantes fujam de catástrofes naturais ou mudanças na natureza, as quais tenham conseqüências imediatas na vida do ser humano.
De acordo com a teoria de Thomas Faist, pesquisador de movimentos migratórios da Universidade de Bielefeld, a maioria desses emigrantes teria, entretanto, a tendência de permanecer na região onde nasceu. Apenas uma pequena parcela migraria para o norte do planeta – para a Europa. "O aquecimento global não é uma má notícia para os países industrializados, mas para o Terceiro Mundo", disse o acadêmico. Mesmo assim, a União Européia continua interessada em soluções que possam evitar grandes ondas de emigração.
A resposta deve vir de um projeto de pesquisa internacional e interdisciplinar financiado pela União Européia (UE) que investiga os movimentos migratórios causados por mudanças climáticas e catástrofes naturais – projeto cuja liderança do grupo de pesquisadores está a cargo do professor Faist. Ao todo, entre cientistas das áreas humana e biológica, são nove os parceiros do projeto, vindos de sete países da EU, cuja meta é analisar e comparar ondas migratórias, para aprender de que forma elas podem ser evitadas.
Regiões costeiras ameaçadas
Como exemplos para estratégias bem-sucedidas ou completamente fracassadas, os cientistas citaram a Holanda e Bangladesh: enquanto os holandeses investiram pesadamente em uma infra-estrutura de diques – e assim se protegem das enchentes – Bangladesh, cada vez mais ameaçada pelo avanço das marés, não tem condições econômicas de investir em um projeto como o holandês – com a conseqüência da emigração de milhares de cidadãos.
A gravidade do avanço das marés para regiões costeiras e balneárias em todo o mundo é demonstrada por um estudo publicado na revista londrina especializada Environment and Urbanization. Segundo o artigo da revista, até o fim deste século, dois terços das maiores cidades do mundo estarão praticamente dizimados pelo avanço das marés. Nas regiões mais ameaçadas, em torno de 180 países, vivem hoje 634 milhões de pessoas.
A investigação de Faist e seus colegas durará dois anos e ocorrerá em países escolhidos da América Central, da África e da Ásia. Os cientistas devem, ao cabo da pesquisa, mostrar aos governos locais quais são as possibilidades de diminuir ou até de evitar as conseqüências das mudanças no meio ambiente.
Para isso, esses países precisariam de ajudas vindas de diversas áreas: há anos, a UE vem procurando idntificar as raízes do problema da emigração. Assim, o dinheiro da UE investido no norte da África, por exemplo, seria utilizado para endurecer o controle da imigração ilegal dos cidadãos desses países para a Europa. Ao mesmo tempo, seriam financiados e apoiados projetos locais de desenvolvimento.
Segundo o sociólogo do grupo de pesquisas, não são apenas as mudanças no meio ambiente as responsáveis pela evasão das pessoas de seus países. Muitas vezes, o principal motivo é a pobreza.
Os mais pobres emigram para países vizinhos
De acordo com os cientistas, as condições econômicas da região influenciam diretamente o destino dos emigrantes. Enquanto os habitantes de regiões mais pobres, por falta de capital para financiar uma viagem ou até mesmo a saída ilegal, conseguem chegar no máximo até os países que fazem fronteira com os seus, os países com uma classe média mais bem estabelecida têm índices de emigração mais altos.
Para exemplificar, Faist cita que um africano de uma região ao sul do Saara precisa de 20 mil dólares para entrar ilegalmente na Europa. "E só quem tem condições de vida relativamente boas consegue isso", diz Faist.
O estudo intitulado "Cenários das mudanças do meio ambiente e da migração forçada" deve ser finalizado no início de 2009. Como resultado, será criada uma plataforma interativa, em que poderão ser trocadas informações sobre o potencial migratório de, por exemplo, fatores climáticos. O trabalho de campo começa nas próximas semanas.
(Deustche Welle, 03/04/2007)