As emissões de dióxido de carbono (CO2) do Brasil à atmosfera vão aumentar em 70,5% até 2030. Segundo as estimativas coletadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a taxa de aumento no País será superior à média mundial nos próximos 25 anos, que será de 52%.
Apesar da constatação, as taxas que o País atingirá em 2030 serão inferiores às emissões de hoje de países como Estados Unidos, Inglaterra, Japão, Canadá e Alemanha.Segundo a OCDE, as emissões aumentaram no mundo em 88% desde 1971. No caso do Brasil, o País registrou emissões de 323 milhões de toneladas de CO2 em 2004 por conta da produção e consumo de energia.
Em 1990, essa taxa era de 193 milhões de toneladas, contra apenas 91 milhões em 1971. Apesar do crescimento, os gases lançados hoje pelo Brasil são equivalentes a toda a emissão da Espanha, que tem um quinto da população brasileira.
Para 2030, a estimativa é de que o País esteja lançando 551 milhões de toneladas de CO2. Um nível ainda bem abaixo dos Estados Unidos, com 7,1 bilhões de toneladas, 2,5 bilhões da Índia e 1,8 bilhões de toneladas de CO2 da Rússia.
China Mas a grande preocupação da OCDE é com a China, com a estimativa de lançar 10 bilhões de toneladas de dióxido de carbono até 2030. Desde 1971, as emissões no país crescem a uma taxa de 5,5% ao ano. O resultado disso é que os chineses hoje já poluem mais que toda a Europa, com emissões de 4,7 bilhões de toneladas, contra 5,8 bilhões dos americanos e 3,8 bilhões da Europa.
Segundo a OCDE, os chineses contribuirão para que, até 2030, as responsabilidades entre países emergentes e ricos mudem no que se refere à proteção ambiental. Em 1971, os países ricos eram responsáveis por 66% das emissões. Em 2004, passaram a 49%.
Hoje, as emissões de gás chegam a 26 bilhões de toneladas no mundo, dos quais 12,9 bilhões vem dos países ricos. Em 2030, dos 40 bilhões previstos, apenas 15 bilhões virão dos países desenvolvidos. 25% virá da China.
Energias renováveis
A OCDE acrescenta que o Brasil irá a manter a liderança entre os países emergentes no que se refere à produção de energias renováveis pelos próximo 25 anos. Até 2030, o País continuará a ter cerca de 40% das fontes de energia de origem renovável, em parte graças ao etanol.
Essa manutenção do papel das energias renováveis irá continuar apesar de uma demanda cada vez maior por energia no País. Segundo os dados coletados pela OCDE, a produção de energia primária (petróleo e carvão) irá aumentar em 75% no País até 2030.
Já outros países emergentes não conseguirão seguir os mesmos padrões brasileiros. A China deve reduzir seu consumo proporcional de energias renováveis. Hoje, 15,6% do que consome vem de fontes renováveis. Em 2030, essa taxa cairá para 10,3% diante da necessidade que terá para alimentar seu crescimento econômico em um mercado de 1,3 bilhão de pessoas.
A Índia também sofrerá para manter o mesmo padrão de uso de energias renováveis e reduzirá a proporção de 38,8% hoje para 25,5% em 2030.
Um caminho inverso deve ser seguido pelos países ricos. Os membros da OCDE, que hoje consomem 6,1% de sua energia de fontes renováveis, passarão a uma taxa de 10,2% em 25 anos. Em alguns países ricos, a taxa já chega a 74% na Islândia e 44% na Noruega. Mas em outros, como Irlanda, Coréia do Sul e Reino Unido, o percentual do consumo energético vindo de fontes renováveis não atinge nem 2%.
Cientistas Ainda segundo a OCDE, apenas um a cada mil pessoas que trabalham no Brasil é um cientista. O País está entre os últimos colocados no que se refere à pesquisa e desenvolvimento em comparação às principais economias do mundo.
Hoje, 3,6 milhões de cientistas trabalham nos países ricos. Dois terços deles estão trabalhando no setor privado. Em alguns países como a Finlândia, o número chega a ser de 17 cientistas para cada mil trabalhadores. Nos Estados Unidos, são quase 10.
Na avaliação da entidade, investimentos em pesquisa e formação de cientistas são questões fundamentais para garantir o crescimento das economias. O resultado pode ser visto no volume de patentes registrado por países.
Finlândia, Japão e Suíça, por exemplo, registram 120 vezes mais patentes que o Brasil a cada ano. O impacto também é sentido no comércio. O Brasil exporta apenas US$ 4 bilhões em produtos eletrônicos, contra mais de US$ 180 bilhões da China.
A OCDE admite que os números sobre o Brasil podem estar subestimados. Mas uma correção ainda colocaria o País longe das economias desenvolvidas. Na média, existem 6,9 pesquisadores para cada mil pessoas nas 30 principais economias do planeta.
Na China, o número proporcional é de apenas 1,4 cientista para cada mil trabalhadores. Mas com a população de 1,3 bilhão, o número absoluto de cientistas é um dos maiores do mundo. Na Rússia, a herança soviética ainda é sentida e o país continua registrando mais de sete cientistas por cada mil trabalhadores.
Um dos pontos fracos do País são os gastos com pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB. Os investimentos não chegam a 0,9% do PIB, contra uma média de 2,2% nos países ricos. No Japão, o país destina 3,3% do PIB à pesquisa.
A população do título universitário no Brasil também está bem abaixo das outras 34 economias analisadas pela OCDE. No País, apenas 7,8% das pessoas entre 25 e 64 anos tem grau universitário ou diploma técnico. No Japão, essa taxa chega a 37% da população, 39% nos Estados Unidos, 44% no Canadá e 54% na Rússia. A média dos países ricos é de 25,2%. México, Portugal e Turquia estão acima do Brasil.
(Por Jamil Chade, O Estado de S. Paulo, 02/04/2007)