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2007-04-02
Os pescadores da Colônia de Pescadores do Rio São Francisco, em Três Marias (MG), vinham alertando a Companhia de Eletricidade de Minas Gerais (Cemig) para o risco de mortandade de peixes caso o vertedouro da barragem de Três Marias fosse fechado, mas os alertas não foram ouvidos pela empresa. Resultado: barcos e mais barcos, caminhões e caminhões de peixes foram mortos, todos com, no máximo, cinqüenta centímetros de tamanho.

Dia 30/03, por volta das 200h, a Cemig fechou, sem necessidade, o vertedouro da Usina Hidrelétrica (barragem) de Três Marias. Não tinha necessidade de fechar o vertedouro, pois esse ano choveu muito e tem muita água represada na barragem. Os peixes, em piracema, estavam tentando subir o rio. Impedidos pela barragem, ficaram encantoados em uma “bacia de água” de cerca 30 metros por 6 metros, uma imensidão de peixes. Como o vertedouro foi fechado, a água parou de ser renovada, o oxigênio na água acabou e os peixes morreram. Outros milhares de peixes foram tragados para dentro das turbinas. Segundo o sargento Eduardo Figueiredo da Polícia Militar ambiental, dentro de uma máquina (uma turbina) há cerca de quatro toneladas de peixes que serão mortos quando a turbina voltar a funcionar. Por falta de oxigênio na água da “bacia” a mortandade de peixe aconteceu e continua acontecendo.

O sr. Norberto Antônio dos Santos, pescador há 48 anos no Rio São Francisco, chorando disse: “Há 48 anos pesco aqui no rio São Francisco, em Três Marias. Nunca vi uma desolação dessa. Da barragem até a barra do rio Abaeté, uns 30 quilômetros, há milhares de peixes mortos e apodrecendo. A catinga é enorme. Há um mau cheiro insuportável por causa dos milhares, senão milhões de peixes mortos apodrecendo. Cinco barcos da Cemig estão recolhendo os peixes mortos. Já foram retirados inúmeros caminhões lotados de peixes mortos para serem enterrados. Dói muito no coração ver um crime ambiental tão bárbaro como esse nos dias em que estamos vivendo. A próxima safra de peixes está seriamente comprometida. Milhares de comunidades ribeirinhas vão passar fome, pois não terão mais peixes a partir desta desova. Uma safra promissora foi abortada. Não tinha necessidade de fechar o vertedouro, pois o lago está com 95% da sua capacidade.”

Reginaldo Antônio dos Santos, 14 anos de pescaria, sente-se profundamente prejudicado. Ele disse: “A comunidade dos pescadores estava feliz, pois esse ano foi bom de chuva. Havia a esperança de uma boa safra de peixes. Agora passaremos fome, pois será muito mais difícil encontrar peixes em nossas pescarias. A Cemig só pensa em represar o máximo de água para lucrar cada vez mais. Não importa com a vida dos peixes e das populações ribeirinhas.”

Os interesses econômicos dos acionistas da Cemig, na prática bastante privatizada, estão prevalecendo. A companhia deve ser responsabilizada por este bárbaro crime ambiental. Deve ser punida com rigor.

A Cemig que diz produzir “energia limpa” está causando um crime ambiental e social como este. Além de “presentear” o povo mineiro com a tarifa de energia residencial mais cara do país e presentear as empresas com a tarifa de energia empresarial mais barata do Brasil, A Cemig agora também retira da mesa das populações ribeirinhas o peixe de cada dia.

(Por Frei Gilvander Moreira, Comissão Pastoral da Terra - MG, 02/04/2007)
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