De acordo com o terceiro levantamento da Embrapa Pantanal sobre a cheia na região pantaneira neste ano a chance de o nível máximo do rio Paraguai, em Ladário, neste ano ser igual ou superior a 5,5 metros é de 90%. Já a probabilidade do pico dessa cheia ser igual ou maior que 6 metros é de 25%.
No dia 25, o Serviço de Sinalização Náutica D’Oeste do 6º Distrito Naval da Marinha do Brasil informou que o nível do rio atingiu 4 metros, marca que representa o nível de alerta de enchente no Pantanal.
De acordo com o hidrólogo Sérgio Galdino, pesquisador da Embrapa, quando o nível máximo anual – medido na centenária régua ladarense – é igual ou superior a 4 metros, como agora, o ano é considerado de cheia no Pantanal a expectativa atual é que o pico ocorra em maio ou início de junho.
“Apesar da baixa probabilidade de ocorrer uma cheia superior a 6 metros, essa possibilidade não deve ser negligenciada”, afirma Galdino. Existem dois fatores importantes a serem considerados: o fato de o nível atual do rio encontrar-se cerca de um metro acima do normal para essa época do ano e o grande volume d’ água armazenado na porção norte da bacia pantaneira, no Mato Grosso.
Esse volume de água deve atingir a região de Corumbá/Ladário (MS) em até dois meses. Diante da possibilidade da ocorrência de uma grande cheia nas áreas localizadas no médio e baixo Pantanal, necessária se faz a retirada da maior parte dos rebanhos bovinos para áreas livres de inundação.
Galdino explicou que desde 1900 o Pantanal tem passado por ciclos longos de cheia e de seca. “Mas nenhum tem sido tão atípico como o atual ciclo de cheia, iniciado em 1974”, afirma o pesquisador.
O ciclo de cheia de 1942 a 1963 durou 22 anos. Nesse ciclo ocorreram cinco anos de seca e o nível médio da régua de Ladário foi de 2,54 metros. O maior ciclo de seca registrado no Pantanal foi de dez anos consecutivos de seca (1964 a 1973). Nesse ciclo, o nível mínimo foi de 61 centímetros abaixo do zero da régua, ocorrido em 1964. O nível médio foi de 97 centímetros e o nível máximo não passou de 2,74 metros, registrado em 1965.
“O atual ciclo de cheia já dura 34 anos, ou seja, é o maior que se tem registro. Nesse ciclo ocorreram apenas três anos de seca: 1994, 2001 e 2005”, disse Galdino, sendo que no período de 1974 a 2006, ocorreram três das quatro maiores cheias no Pantanal.
Cheias e cheias
Sérgio Galdino explica que a planície pantaneira está rodeada por planaltos adjacentes, onde nascem os principais rios do Pantanal. A grande extensão da planície, com 140 mil km2, aliada a sua pequena declividade, favorece a ocorrência de um complexo sistema de cheias na região.
Ele diz que durante o período chuvoso, as águas provenientes dos rios do planalto chegam à planície e, somadas às chuvas locais, inundam as regiões mais baixas. “Cheias desse tipo ocorreram em 2007, nos rios Piquiri e Miranda, na Baia do Jacadigo, e no baixo Pantanal das sub-regiões do Paiaguas, Nhecolândia e Abrobal. Essas cheias estão fazendo com que produtores rurais retirem seus animais para áreas mais seguras”, afirma.
Atualmente é grande o número de comitivas transportando gado na BR-262. A carência de postos de medição de chuva e nível de rios, capazes de fornecer leituras instantâneas, praticamente está inviabilizando a previsão das cheias nesses locais.
Outro tipo de cheia, que ocorre mais lentamente e pode ser melhor monitorada, é a do rio Paraguai. Este rio constitui o principal dreno coletor das águas dos rios, corixos e vazantes do Pantanal. A sua baixa declividade no sentido norte-sul faz com que a cheia em Cáceres (MT), acrescida da cheia do rio Cuiabá/São Lourenço, demore de dois a três meses para atingir Corumbá/Ladário, e mais dois meses para chegar a Porto Murtinho (MS).
Assim, as cheias do rio Paraguai em Corumbá/Ladário e em Porto Murtinho ocorrem em pleno período de estiagem. A área sujeita a inundação pelo rio Paraguai, no Pantanal sul-mato-grossense, compreende principalmente as sub-regiões do Paraguai e Nabileque, cuja superfície é de 21.428 km2. A grande maioria dos produtores rurais dessas regiões relaciona a intensidade da inundação em suas propriedades com a cheia do rio Paraguai, em Ladário.
Assim, segundo o pesquisador, o monitoramento dos níveis da régua ladarense é fundamental para a decisão desses pecuaristas quanto à remoção dos animais para áreas mais seguras.
Novas previsões
Previsões sobre a cheia deste ano deverão ser disponibilizadas pela Embrapa Pantanal, por meio de seu site (http://www.cpap.embrapa.br/). Interessados em acompanhar o comportamento dos rios Paraguai e Cuiabá, noPantanal, com antecedência de até quatro semanas, podem acessar as previsões semanais da CPRM (Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais), pelo http://www.cprm.gov.br/publique/media/prev.pdf.
(Por Henriqueta Pinheiro, Pantanal News, 30/03/2007)