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2007-04-02

Poderia a Polônia se tornar um país vinícola um dia desses? Será que a Borgonha, fiel ao pinot noir há séculos, vai ser obrigada a adotar outras qualidades de uva? E, no que seria uma outra heresia, será que certos vinhedos classificados terão de ser irrigados em determinado momento? Essas perguntas foram abordadas em várias oportunidades num colóquio intitulado "Aquecimento climático, quais impactos prováveis sobre os vinhedos?", organizado na universidade da Borgonha, em Dijon, de quarta (28) a sexta-feira, 30 de março.

Profissionais e cientistas vêm constatando esta evolução já faz vários anos: o aquecimento está mesmo ocorrendo, e imprime a sua marca numa atividade que tem por obrigação de respeitar estritos critérios de qualidade. Desde que foi inventado, o vinho sempre precisou se harmonizar com os caprichos do clima, lembrou Emmanuel Le Roy Ladurie. Mas o ano de 2003 "transpôs todos os limites", garante o historiador do clima: "O outro ano que mais se aproxima dele é 1523, quando as vindimas começaram em 27 de agosto na Borgonha". Em 2003, elas foram iniciadas em 19 de agosto.

A fenologia do vinhedo - estudo das diferentes etapas que vão da aparição de brotos até a maturidade da uva, e das suas inter-relações com o clima - por todo lugar está modificada, desde uma alteração profunda nas medições que ocorreu no começo dos anos 1980. O geógrafo Gregory Jones (da Universidade do Sul do Oregon, EUA) constatou que essas etapas vinham ocorrendo cada vez mais cedo e que o processo como um todo havia sido abreviado em 6 a 17 dias em média ao longo do período que vai de 1950 a 2000.

Nas 27 regiões vinícolas do mundo que foram levadas em conta na sua análise, a temperatura aumentou em 1,3 °C no decorrer da temporada vegetativa. Em Napa Valley, na Califórnia, a notação dos vinhos melhorou, à medida que a taxa de açúcar ia aumentando. Mas 75% da produção precisa agora passar por um processo de redução do seu grau alcoólico, uma vez que este alcança 16% antes desta operação.

"Grande reviravolta"
Num estudo que está por ser publicado, Gregory Jones estima que, desde 1950, a faixa geográfica favorável à cultura dos vinhedos (entre 10 ºC e 20 ºC de temperatura média) deslocou-se numa distância de 80 km a 240 km rumo aos pólos. Os levantamentos meteorológicos confirmam esta tendência na Borgonha, comenta Jean-Pierre Chabin (da universidade da Borgonha): "É como se em trinta anos, Beaune [a capital vinícola da região] tivesse se deslocado 200 km mais ao sul". Com isso, parcelas situadas mais em altitude, onde a temperatura é menor, tornam-se mais promissoras.

Baseando-se num dos cenários "pessimistas" apontados pelo Grupo Intergovernamental sobre a Evolução do Clima (Giec), Gregory Jones avalia que a "migração" poderia ser de 280 km a 500 km suplementares daqui até 2099. Mudanças de tipos de uva seriam então necessárias nos vinhedos existentes, dos quais alguns, ameaçados pela seca, deverão mudar de local. Esse tipo de evolução já está ocorrendo na África do Sul, onde as macieiras próximas da orla dão lugar a vinhedos.

O aquecimento significa também o surgimento de novos insetos, tais como o eudemis, na Champagne, ou o recrudescimento de doenças tais como o míldio e o oídio (fungos). Ele significa ainda uma maior erosão dos solos por efeito dos temporais. Bernard Seguin, que coordena as pesquisas sobre o clima no Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica (Inra), prevê para o setor uma "grande reviravolta".

Para a economista Marie-Claude Pichery (universidade da Borgonha), não prospectar novas terras "seria um erro que um negociante não deveria cometer". Os profissionais, por sua vez, se mostram mais tranqüilos e estimam que as técnicas de cultivo (das videiras) e enológicas (na produção do vinho) lhes permitirão adaptar-se.

Por enquanto, os vinhateiros estão comemorando o aquecimento, que de modo geral aumentou o rendimento e a qualidade da produção. Mas, nos vinhedos meridionais, muitos deles estão preocupados com as secas recorrentes. Nesse sentido, o Instituto Nacional da Origem e da Qualidade esteve na origem de um decreto recente que enquadra a irrigação dos vinhedos produtores de grandes marcas.

O ano de 2003, que poderia prefigurar os verões da segunda metade do século, tem valor de advertência. Dominique Moncomble, do Comitê Interprofissional dos vinhos da Champagne, admite que aquela safra foi "surpreendente pelo seu perfil". Além do mais, a maioria dos profissionais do setor concorda com o fato de que a maior precocidade das vindimas, cujo efeito é de alterar o grau alcoólico e a maturidade da uva, poderia ter a curto prazo um impacto sobre o envelhecimento e a "tipicidade" dos vinhos. Ou seja, aquilo que lhes confere a sua personalidade, a sua alma, e o seu preço.
(Le Monde, 01/04/2007)


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