O crescimento demográfico, o desenvolvimento urbano desequilibrado, a degradação ambiental e a mudança climática fizeram que "o número de pessoas afetadas pelas catástrofes naturais aumentasse de maneira notável nos últimos 20 anos". No final da década de 1980, cerca de 177 milhões de pessoas (população equivalente à da Indonésia) eram afetadas por catástrofes naturais todos os anos. Mas desde 2001 essa média se situou em 270 milhões, o que representa um aumento de 50%. É o que indica o relatório "A situação do mundo 2007: Nosso futuro urbano" sobre a saúde do planeta, elaborado anualmente pelo Instituto Worldwatch de Washington
Mais população urbana que rural
Muitas catástrofes têm origem na urbanização descontrolada. Há um século, a maior parte do planeta vivia em áreas rurais, enquanto no próximo ano as zonas urbanas já terão mais população que as rurais. As cidades passaram de 732 milhões em 1950 para 3,2 bilhões no ano 2006. Ásia e África (com 40% e 38% de população urbana) duplicarão suas populações urbanas e chegarão a 3,4 bilhões em 2030.
O drama é que 60 milhões de pessoas se incorporam todo ano a cidades que crescem depressa demais e a seus bairros periféricos, sobretudo em assentamentos pobres em países em desenvolvimento. E isso acontece quando 1 bilhão de pessoas vivem em subúrbios sem serviços básicos: água potável, saneamento ou moradia. Pobreza econômica, governos deficientes, mau planejamento urbano e edificação inadequada são o caldo de cultivo para muitas catástrofes. Não são, portanto, casualidades sinistras, mas a conseqüência da falta de políticas para evitar os riscos existentes.
Zonas sísmicas sob o vulcão
A localização costuma ser chave. Oito das dez cidades mais populosas do mundo foram construídas sobre falhas sísmicas ou perto de alguma delas, enquanto seis em cada dez são vulneráveis a ondas gigantescas. Há cidades grandes situadas perto de vulcões, ou acompanhando litorais "que ficarão expostos ao aumento do nível do mar devido à mudança climática". A arquitetura de muitas periferias reúne diversos materiais inflamáveis e é freqüente que as grandes cidades nos países em desenvolvimento enfrentem ligações elétricas perigosas, despejo de águas residuais e vertedouros de resíduos tóxicos. O homem agrava os efeitos de viver sob o vulcão.
O corte dos manguezais em Sri Lanka agravou a força das ondas do tsunâmi no oceano Índico em 2004. O efeito da bolha de calor em Nova York no verão faz disparar a demanda de ar-condicionado e provoca mais produção elétrica e mais poluição (com o corolário de mortes e doenças causadas pelos choques de calor). Menos de 3% das famílias dos países de baixa e média renda têm seguro contra essas catástrofes naturais.
Exemplos para estabilizar o clima
As cidades cobrem somente 0,4% da terra, mas produzem a maior parte dos gases do efeito estufa, indica o relatório, que repassa algumas soluções (planejamento, sistemas de alerta, gestão de catástrofes) e alguns dos melhores exemplos de desenvolvimento urbano racional. Malmö, na Suécia, por exemplo, projetou um novo bairro pensando em obter 100% da energia de fontes renováveis; e em seu principal edifício, o Turning Torso (de Santiago Calatrava), os apartamentos têm aparelhos para triturar o lixo orgânico que é recolhido para produzir o biogás usado em fogões e veículos.
Em Rizhao, uma cidade costeira no norte da China, 99% das residências dos bairros centrais usam captadores solares térmicos para ter água quente, enquanto a iluminação das ruas e parques funciona com células solares. Assim se reduziu o consumo de carvão e se melhorou o entorno da cidade. Não é pouco, pois a China tem 16 das 20 cidades mais poluídas do planeta. Enquanto isso, Curitiba (Brasil) continua sendo um exemplo de fomento do transporte público, com seus ônibus cruzando as pistas centrais das grandes artérias e suas grandes áreas verdes. E nos EUA 150 cidades assinaram um acordo para a proteção do clima. São exemplos de como se pode evitar a catástrofe.
(La Vanguarda, 01/04/2007)