No "sertão" australiano, as temperaturas devem subir até 6,7ºC até 2080, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
"Um aumento do perigo representado pelo fogo na
Austrália deve ser associado à redução do intervalo entre os incêndios, por um
aumento na intensidade dos incêndios, uma redução na extinção de
incêndios", disse um trecho do estudo, divulgado para a imprensa local.
O relatório deve ampliar a pressão sobre o governo conservador australiano por medidas contra as mudanças climáticas. O país não assinou o Protocolo de Kyoto, e o aquecimento global já desponta como uma das principais questões da campanha para as eleições deste ano.
Este é o segundo de quatro relatórios a serem preparados neste ano pela comissão climática da ONU. Sua divulgação oficial está marcada para 6 de abril em Bruxelas. O primeiro estudo dizia haver 90% de certeza de que o aquecimento global é provocado pela ação humana, principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis.
O esboço do segundo relatório diz que o nível dos mares deve subir devido ao derretimento das calotas polares, o que provocaria transtornos em áreas litorâneas da Austrália e da Nova Zelândia, com "maiores inundações costeiras, erosão, perda de manguezais e intrusão da água salgada nas fontes de água doce."
O aquecimento provocaria também uma "catastrófica
mortalidade de espécies de coral anualmente" na Grande Barreira de Corais,
no litoral australiano. O primeiro relatório da comissão dizia que os recifes
estarão "funcionalmente extintos" em 40 anos.
Danos, mortes e Kyoto
Deslizamentos, falta d´água e tempestades devem provocar danos à infra-estrutura, e as mortes associadas ao calor devem subir da média anual de 1.115 para 6.300 até 2050, quando as temperaturas já terão aumentado 3,4ºC, segundo o estudo.
O governo australiano, que nesta semana endureceu sua oposição ao Protocolo de Kyoto, que estabelece metas para a redução das emissões de gases do efeito estufa, disse não haver novidades no estudo. "Sabemos que há a possibilidade ou a probabilidade de um futuro mais quente e seco", disse o ministro do Meio Ambiente, Malcolm Turnbull, à rádio ABC.
Já Roger Beale, ex-chefe do Departamento de Meio Ambiente e membro do grupo de trabalho do IPCC que avalia os impactos econômicos do aquecimento, disse que o governo não pode ignorar as conclusões. "Entre os países desenvolvidos, a Austrália está muito exposta, e já estamos perto do limite", disse Beale à agência de notícias Reuters.
O governo australiano afirma que as metas de redução das emissões previstas no Protocolo de Kyoto iriam prejudicar o crescimento econômico e provocar desemprego na Austrália.
Por outro lado, o grupo ambientalista WWF afirma que o país pode sofrer enormes dificuldades e também a extinção de inúmeras espécies - já há 1.590 delas ameaçadas na ilha.
"Mesmo que amanhã ocorram grandes reduções nas emissões dos gases do efeito estufa, o clima ainda assim mudará dramaticamente, e temos de estar prontos para isso", disse Martin Taylor, porta-voz da ONG.
(Reuters, 30/03/2007)