A água que tem chegado suja a cerca de 25 mil domicílios abastecidos pela Barragem Santa Bárbara não deve ser ingerida. A informação foi confirmada ontem à tarde (29/3) pela bioquímica do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep), Isabel André. Em alguns pontos o nível de concentração do metal manganês - que origina a coloração escura - está até duas vezes acima dos parâmetros de potabilidade permitidos pela portaria 158 do Ministério da Saúde. Em casos de intoxicação pode provocar sintomas, como dores musculares e fraqueza.
Desde a aplicação do permanganato de potássio - que age como neutralizador do metal - a água sai da Estação de Tratamento sem problemas. Três análises diárias realizadas pelo Sanep indicam as boas condições. A de ontem pela manhã, por exemplo, identificou 0,03 miligramas de manganês por litro de água, enquanto o recomendado pela legislação é de no máximo 0,1 mg/l. Ficou, então, dentro dos padrões.
Os resíduos do manganês que ainda permanecem na rede, no entanto, fazem o líquido chegar, por vezes, preto às casas. Por isso a direção do Sanep não arrisca afirmar uma data para suspender as descargas nas pontas de rede, iniciadas na madrugada de terça-feira. A abertura da tubulação funciona como limpeza, força a interrupção do fornecimento, mas garante o escoamento dos resíduos. Nos dois dias seguintes à descarga é comum a água continuar turva.
“A pressão e a velocidade da água, o diâmetro da adutora e a altura da rede também influenciam para as residências serem mais ou menos atingidas”, explicou a bioquímica. As áreas mais baixas e com o encanamento mais estreito tendem a ser as mais prejudicadas. Para reclamações e informações o telefone é o 3026-1144.
Prejuízos ao bolso
Além da tentativa de abono das cobranças de excesso nas contas de água, os usuários também podem preencher requerimento solicitando ressarcimento de possíveis prejuízos materiais em decorrência dos efeitos do manganês. Os pedidos serão estudados caso a caso, após visita à residência. Isentar o morador do pagamento do valor integral da conta seria inviável à autarquia, reafirmou o diretor-presidente, Ubiratan Anselmo.
As iniciativas para normalização
o O Sanep elabora projeto para construção de lagoas de tratamento dos efluentes junto à Sanga da Barbuda, para a redução da carga orgânica que chega à Barragem. São as chamadas lagoas de estabilização. Ainda não existe estimativa de custos, mas a obra está entre as prioridades, para evitar novos transtornos como esse.
o Uma bomba de sucção segue instalada junto ao ponto de captação para retirada da lama acumulada ao fundo da Santa Bárbara.
o Levantamento realizado por um mergulhador de Florianópolis, que deve desembarcar em Pelotas até o final da próxima semana, apontará o estado de conservação da comporta que poderia contribuir com o escoamento da lama. Como nunca foi aberta e já é antiga - tem mais de 20 anos - precisaria primeiro passar por conserto, para depois ser removida. Em 28 de fevereiro, quando o Diário Popular fez matéria sobre o assunto, a direção da autarquia já havia anunciado a medida, mas ainda não saiu dos planos.
o Uma quarta ação deve ser implantada a longo prazo para o problema não voltar a ocorrer: são investimentos na Planta de Tratamento, que permitiriam o aumento do chamado tempo de detenção da água, que eleva a qualidade do líquido aos usuários. A obra deve custar em torno de R$ 1 milhão.
As explicações
1- A estiagem prolongada agrava a situação. Como há cerca de dois anos não ocorre a renovação da água da Barragem Santa Bárbara - já que ela não passa por cima do vertedouro - a quantidade de lodo se acumula e contribui à formação do metal. Como o manancial da Barragem também recebe esgoto residencial e resíduos industriais, através da Sanga da Barbuda, os índices do metal crescem. “Não existe uma única razão; são fatores cumulativos, agravados principalmente pela seca”, afirmou Isabel André.
2- Esse manganês em maior quantidade nos últimos meses, em contato com o cloro, na Planta de Tratamento, formou partículas e deu a coloração escura à água. A aplicação do permanganato de potássio à água bruta, iniciada há aproximadamente duas semanas, passou a funcionar como neutralizador. Reduziu os níveis do manganês, antes que entrasse em contato com o cloro e provocasse a reação. O que ainda causa a alteração de cor são os resíduos ainda não eliminados da rede.
(Diário Popular, 30/03/2007)