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2001-10-31
Todos os dias cerca de mil pessoas, homens, mulheres e crianças, encontram-se para discutir cultura, ecologia ou para brincar e aprender numa minicidade encravada em Hafen Temphof, Berlim. Lá fica a UFAFABRIK, um projeto que nasceu como protesto contra a violência e teve sua semente plantada no final dos anos 70. Dez anos antes da queda do muro de Berlim, um grupo de pessoas consideradas malucas para os padrões de então resolveu ocupar casas abandonadas no Oeste da cidade e dar forma a um projeto de vida alternativo que envolvia a produção de cultura (filmes, circo, seminários de todos os tipos) é uma forma menos consumista de viver. Já naquela época, essas pessoas, jovens de 20 a 25 anos, idealizavam o uso de energias renováveis e decidiram que precisavam de um espaço próprio para isso. Hoje a UFAFABRIK - que não tinha esse nome em 1979, quando o grupo criou a comunidade - é um minicomplexo em Temphof. Conta com unidades experimentais para projetos ecológicos, onde estudantes vêm testar o desenvolvimento de plantas, tem estrabarias para pôneis, galinhas circulando em meio a cerca de 50 criancas que frequentam a Escola Livre, um espaço onde elas decidem o que aprender, quando e como. A minicidade tem também cafés e lojas onde se pode comprar comida natural e outros produtos ecológicos. Ali se aproveita a água da chuva para dar descargas nos banheiros e para irrigar plantas. A UFAFABRIK, há dois anos, é autosuficiente em energia. Produz 70 quilowatts por mês e, com o excedente energético que gera, consegue uma renda de 60 mil marcos. Mas nem tudo foi fácil para esse grupo de malucos alternativos. Michael La Fond, um PHD em urbanismo que desembarcou de Seattle (Estados Unidos) em Berlim, só para conhecer a UFA, em 1991, e hoje ajuda a coordenar vários projetos na minicidade, garante que houve tempos bem difíceis para o pessoal da UFA. - Até 1986, não havia fundos do governo para esse projeto, lembra. De acordo com ele, que acabou se apaixonando pela idéia, voltou para Seattle para concluir a faculdade de arquitetura e retornou para terminar o doutorado em Berlim, onde agora está radicado, a UFA fez um acordo com o governo de Berlim, em 1986, quando passou a receber apoio financeiro para a continuidade do projeto. Os tempos mudaram, e a geração que criou a UFA, hoje na faixa dos 40 anos, também teve que mudar, especialmente com a queda do muro, em 1989. De lá para cá, a administração da minifábrica, como é conhecida, foi centralizada. Apesar de continuar como uma entidade sem fins lucrativos, a UFA tem certas unidades independentes, como a cafeteria e a loja de produtos naturais, que geram renda para os projetos. Cerca de 35 pessoas vivem e trabalham na minicidade. Lá existe espaço para um pequeno circo e para uma indústria cinematográfica, que tem uma boa parte do movimento contracultural da Berlim do final dos anos 70. Samba, capoeira, música africana e asiática são shows à parte. Michael diz que a principal meta para o ano que vem é a conferencia Rio + 10, que será realizada em Johannesburgo, África do Sul, em setembro do ano que vem, em alusão aos 10 anos da Rio 92. Segundo ele, a UFA está preparando seu pessoal para levar ao encontro a sua própria agenda ambiental. - Nós não seguimos a Agenda 21, temos uma agenda de sustentabilidade que foi acordada com a cidade de Berlim, assinala. Michael fica surpreso ao ver que a Agenda 21 não é ao menos conhecida em muitas partes do mundo. - Nos Estados Unidos, se você falar em Agenda 21, a maioria das pessoas simplesmente não sabem o que é, concluiu.

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