Ativistas de 13 países asiáticos participam a partir de hoje (30/03) da Semana de Ação pelo Arroz, enquanto um acampamento de jovens já alerta desde a província tailandesa de Kalasin contra as variedades transgênicas deste cultivo vital. Os organizadores do acampamento, que começou ontem (29/03), tem a intenção de “mostrar aos jovens a cultura local do cultivo de arroz”, disse Janphen Ruyan, da Fundação de Comercial da Agricultura Rural e Ação pela Soberania Alimentar. “O arroz é nossa vida, e não algo que simplesmente consumismos”, ressaltou.
A Federação também pretende que os filhos e filhas de produtores de arroz da Tailândia se sintam “orgulhosos do que suas comunidades produziram no passado”. Ruyan acrescentou que “nos preocupa o fato de algumas variedades de arroz estarem desaparecendo”. Esta campanha é parte de um esforço de conscientização que inclui todos os países produtores da Ásia, para exibir os êxitos das comunidades rurais e dos produtores que trabalham durante para garantir ano a ano uma colheita abundante.
Os 13 países onde é celebrada a Semana da Ação pelo Arroz, até 4 de abril, são Bangaldesh, Camboja, China, Coréia do Sul, Filipinas, Índia, Indonésia, Japão, Malásia, Nepal, Paquistão, Sri Lanka e Tailândia. “Esta é uma luta pelas pessoas comuns”, disse Anne Haslam, porta-voz da não-governamental Rede de Ação contra os Pesticidas da Ásia e do Pacífico, com sede em Penang, na Malásia, que lidera esta campanha. “Queremos arrecadar um milhão de assinaturas durante a Semana para apoiar o trabalho de agricultores locais”, acrescentou.
Estas jornadas são a resposta ao crescente temor de que a agricultura tradicional esteja sob ameaça das variedades de arroz geneticamente modificado, explicou Haslam à IPS. “Em alguns países asiáticos foi detectado arroz transgênico”, acrescentou. “Os agronegócios abriram caminho para o arroz híbrido e agora para variedades transgênicas como o Golden, o Bt e o Liberty, que causaram não apenas perdas de variedades fortes, únicas e tradicionais de arroz, mas também sua contaminação”, diz o documento para o qual estão sendo colhidas assinaturas de adesão. “Os transgênicos somente vão piorar o problema da fome mundial”, acrescenta o texto.
A petição também acusa o Instituto Internacional de Pesquisa sobre o Arroz, com sede nas Filipinas, de juntar esforços com empresas do agronegócio para garantir um “controle corporativo das sementes e da agricultura”, o que – afirma – deveria “pertencer por legítimo direito aos que cultivam a terra”. O Instituto foi líder na produção de arroz híbrido de alto rendimento na Ásia durante quatro décadas. Nos últimos 10 anos, por exemplo, desenvolveu cerca de 20 variedades híbridas e as distribuiu por noves países asiáticos, desde a Índia e Bangladesh na Ásia meridional até Indonésia e Vietnã no sudeste da Ásia.
Também foi pioneiro da Revolução Verde, entre 1968 e 1981, período em que foram distribuídas sementes de variedades de arroz de alto rendimento para aumentar em 42% a produção. Porém, os ativistas pouco se impressionaram com esses êxitos, como assinala a “Declaração do povo para salvar o arroz da Ásia”. O documento afirma que, “através da chamada Revolução Verde, a agricultura corporativa envenenou as pessoas e os campos de arroz com pesticidas e fertilizantes sintéticos, degradou terras de plantio de arroz, destruiu ecossistemas desse grão e debilitou severamente a segurança do cereal como alimento”.
Os ativistas destacam o caso de Bangladesh. Após a introdução de arroz híbrido, as variedades nativas diminuíram de aproximadamente 50 mil para cerca de 1.500. Os participantes do movimento acusam a Revolução Verde de destruir a cultura agrícola tradicional que deu lugar a uma diversidade tão abundante do cereal. A Ásia é o maior produtor deste grão, alimento básico para cerca de três bilhões de pessoas. Bangladesh, China, Filipinas, Índia, Indonésia, Tailândia e Vietnã lideram a lista das nações produtoras de arroz. A região colhe anualmente perto de 500 milhões de toneladas desse grão, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
A Tailândia é o principal exportador de arroz do mundo: nos últimos anos embarcou para o exterior aproximadamente sete milhões de toneladas anuais, em média, acrescentou a FAO. O Vietnã figura em segundo lugar de uma lista que também inclui China, Índia e Paquistão. Porém, a organização ambientalista Greenpeace alertou no começo deste ano sobre as ameaças ao arroz nativo pelo surgimento de variedades transgênicas, desenvolvidas nos Estados Unidos detectadas em mercados do sudeste deste continente.
A advertência era dirigida ao governo filipino, que decidiu permitir “a importação e venda continuada de arroz geneticamente modificado que, por lei, não pode ser distribuído e comercializado para consumo humano no pai”. Entre as variedades de arroz assinaladas pelo escritório do sudeste asiático do Greenpeace figurava as marcas Uncle Sam Texas Long Grain, que “contaminava” os grãos locais “com o organismo geneticamente modificado Bayer LL601”. O LL601 é arroz “geneticamente alterado para resistir ao poderoso herbicida glufosinato”, e sua distribuição e consumo humano são “ilegais em todo o mundo, menos nos Estados Unidos”, acrescentou.
“Isto é uma ameaça à biodiversidade na região. Mostra que não existe um esforço adequado para revisar e controlar o arroz contaminado dos Estados Unidos que chega aqui”, disse Neth Dano, da Rede do Terceiro Mundo, em entrevista telefônica desde Manila. “Os governos ainda não se conscientizaram do perigo que representa o arroz transgênico”, afirmou. A campanha de conscientização de uma semana divulgará a preocupação de agricultores e comunidades da região, que pretendem fechar os campos de arroz dessa área à produção transgênica, acrescentou. “Se as coisas mudam, será muito trágico”, ressaltou.
(Por Marwaan Macan-Markar, IPS, 29/03/2007)