Em um lugar onde o sol aparece em torno de 280 dias por ano como o Brasil, praticamente se ignora a energia solar como matriz energética. Negligência que desperdiça um potencial de aproveitamento equivalente a 50 mil vezes o consumo nacional de eletricidade.
Mesmo no limite da produção energética, o país ainda se dá ao luxo de esbanjar cerca de 7% da energia elétrica produzida para aquecer água por meio de chuveiros elétricos - tensão suficiente para abastecer de energia todo o Rio Grande do Sul. Boa parte dessa energia, segundo especialistas, poderia ser poupada ou aplicada para outros fins com iniciativas simples, como a instalação de coletores solares para aquecimento da água do banho.
Por que não tirar proveito dessa abundância? Arno Krenzinger, chefe do laboratório de energia solar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que falta um programa de governo:
- No Brasil, é cada um por si. Falta apoio para popularizar a matriz solar. Na Europa, por exemplo, há planos de financiamento e compra da energia elétrica produzida por meio da energia solar - destaca.
Outro obstáculo para a disseminação dos painéis solares é o alto custo de produção em grande escala, em comparação com as hidrelétricas. Usinas como Itaipu, no Paraná, e Tucuruí, no Tocantins, conseguem fornecer energia com preços muito mais competitivos.
No início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, quando foram discutidas alternativas para afastar os riscos de novos apagões como os que deixaram o Brasil às escuras entre 2000 e 2001, levantou-se a possibilidade de utilização da energia solar. Os especialistas do governo, entretanto, entenderam que a indústria de equipamentos solares não estava desenvolvida o suficiente e preferiram adiar os investimentos na fonte. Acabaram escolhendo os parques eólicos, como o de Osório, no Litoral Norte do Rio Grande de Sul.
Sem incentivo federal e com pouca demanda, os equipamentos nacionais utilizados para conversão da luz do sol em energia elétrica e água quente continuam com preços muito altos, fora do alcance da maior parte da população. Na Capital, em uma tentativa de incentivar a utilização de energia solar nas construções, a Câmara aprovou projeto que oferece benefícios fiscais para quem instalar os equipamentos.
Contraponto
O coordenador geral de fontes alternativas do Ministério de Minas e Energia, Augusto Machado César, revelou que uma equipe técnica do órgão está desenvolvendo um projeto de aplicação da energia solar no país. O programa atenderia localidades isoladas, nas quais a energia elétrica ainda não chegou.
Aplicações
- Coletor solar: a conversão de energia solar em calor geralmente é produzida em uma placa pintada de preto com uma pequena rede de dutos internos. O princípio de funcionamento é bem simples, bastando a passagem da água pela rede para ser aquecida pela luz solar incidente sobre o equipamento. Com essa técnica, a água pode ser aquecida facilmente a 80ºC ou, em um dia bem quente, até ser fervida.
- Sistema fotovoltáico (foto): esse modelo é formado por células fotovoltáicas capazes de transformar a energia solar em eletricidade, instaladas em painéis conectados diretamente na rede elétrica. Como os módulos só produzem eletricidade quando há incidência de sol, é comum a utilização de baterias para armazenar a energia.
Parques de energia solar
Há quase três décadas estudando a energia solar, o professor de Engenharia e chefe do laboratório de energia solar da UFRGS, Arno Krenzinger, acredita que a criação de parques de energia solar não é a melhor alternativa para implantar a tecnologia no país. Segundo o pesquisador, a instalação dos equipamentos de conversão de energia solar nas residências seria mais vantajoso economicamente:
- Prolifera-se a idéia de cada um no seu telhado produzir um pouco de energia, eliminando, dessa forma, os custos de transmissão - diz.
(Zero Hora, 29/03/2007)