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2007-03-29

A destruição de lavouras de eucalipto em um assentamento na Zona Sul do Estado escancarou um processo de críticas à parceria da Emater com a Votorantim Celulose e Papel.

Recentemente, agricultores assentados no município de Pedro Osório tomaram a iniciativa de destruir dos seus próprios lotes as lavouras de eucalipto que haviam sido plantadas com orientação técnica da Emater, dentro do programa Poupança Florestal da Votorantim. Os assentados estavam ameaçados de perderem seus lotes, após notificação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), uma vez que as lavouras exóticas estariam em desacordo com o licenciamento ambiental dos assentamentos.

Uma das lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região, Irma Ostroski critica o papel desempenhado pela Emater. “Ela existe para auxiliar a agricultura familiar, que é basicamente trabalhar na linha da produção de alimentos, do auto-sustento. Ao invés disso, a Emater está sendo usada para garantir os interesses das grandes empresas dentro da pequena agricultura, dos assentamentos”, afirma.

Em audiência pública realizada na semana passada, na Assembléia Legislativa, o engenheiro agrônomo da Emater, Fernando Alves, apresentou o Poupança Florestal. O programa foi implantado em 2004 e já conta com sete mil hectares de eucalipto, pínus e acácia plantados em pequenas propriedades rurais da região Sul. A meta estabelecida pela Votorantim é que o órgão estadual garanta 40 mil hectares, e a empresa, outros 80 mil ha.

Ele se defende dizendo que é papel dos assentamentos produzir matéria-prima. No entanto, admite que o agricultor terá receita de apenas duas safras em 14 anos, além do crédito inicial para o plantio. “São 14 anos, duas safras. Dá condições para o agricultor produzir mais. E, no sétimo ano e no décimo quarto ano, ele tem toda a receita líquida recebida para a produção de madeira dele”, afirma.

Fernando Alves também afirma que, por 14 anos, a área é praticamente exclusiva para o plantio de eucalipto. Após o corte, realizado pela empresa, o agricultor poderia investir em pecuária. Mas a produção de grãos e de outras culturas só seria possível após outros quatro anos, período em que os tocos das árvores se decompõem. O custo de produção, porém, seria ainda mais alto. “Por causa dos tocos e devido ao custo muito grande para retirar os tocos plantar. Mas é viável entrar com uma lavoura. Ele pode entrar com uma cultura, mas poderá ter um custo muito maior. No decorrer de três ou quatro anos, o toco se decompõe”, diz.

Uma das vantagens do programa, afirmadas pela Votorantim, é de que a produção de madeira é consorciada com a produção de alimentos. O agrônomo da Emater admite, no entanto, que a produção de alimentos só é viável nos primeiros dois anos da lavoura, dependendo do espaçamento entre as árvores. “Devido ao espaçamento. Se tu queres lavoura, tu fazes um espaçamento maior. Se teu objetivo maior for a produção de eucalipto, tu plantas num espaço menor. Aí, tu plantas milho, feijão, só no primeiro e no segundo ano”, explica.

Para Irma Ostroski, que é assentada no município de Piratini, região de atuação da Votorantim, o plantio de alimentos no meio dos eucaliptos é realizado em poucos lotes e não passa de uma estratégia da empresa de parecer politicamente correta.

“O que a Emater fez, principalmente no município de Piratini, mas não diferente nas outras regiões, foi de ir até as famílias e convencê-las da viabilidade econômica de plantar o eucalipto. E foi através da Emater que elas fizeram os projetos. A posição deles (Emater) sempre foi na linha que poderia se plantar o eucalipto e produzir outras culturas no meio, tanto que eles fizeram algumas experiências de fazer as fileiras mais distanciadas, o que foi como uma ‘laranja de amostra’ nas áreas mais próximas do asfalto. Nos outros lotes, eles implantaram o plantio convencional. Foram poucos os lotes em que eles implantaram este esquema de haver outras culturas no meio. E vem se comprovando isso: no primeiro ano, as famílias conseguiram plantar alguma coisa. Mas, no segundo ano, não está mais produzindo milho, abóbora, melancia, no meio dos eucaliptos”, afirma.

A polêmica sobre a derrubada de eucaliptos em assentamentos continua. O MST promete repetir a ação de Pedro Osório em outros assentamentos da região que se integraram com a Votorantim. A empresa estuda formas de reagir no campo jurídico.
(Por Luiz Renato Almeida, Agência Chasque, 28/03/2007)


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