Biocombustíveis e outras fontes renováveis podem ser a chave para resolver a crise energética da África. Se as autoridades não agirem logo, a situação se agravará, alertaram especialistas internacionais e funcionários governamentais. Cidades da África subsaariana como Lusaka, capital de Zâmbia, Harare (Zimbábue), Gaborone (Botswana) e Dar-Es-Salaam (Tanzânia) serão afetadas pela crise. “O continente tem muitos recursos renováveis que poderiam beneficiar a maioria da população em poucos anos”, afirmou o diretor-adjunto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner.
Steiner fez estas declarações ao encerrar em Nairóbi a Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento da África (Ticad), iniciativa criada pelo Japão em 1993 para enfrentar as ameaças ambientais no continente. Desde a criação da Ticad, a Organização das Nações Unidas, a Coalizão Global para a África, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o Banco Mundial aderiram ao empreendimento. Steiner alertou que a África corre o risco de ficar presa a um padrão de desenvolvimento que a deixará em atraso com relação ao resto do mundo. As nações africanas deveriam recorrer aos seus próprios recursos para criar suas estratégias de desenvolvimento, acrescentou.
Se as grades potências não levarem a sério os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidas pela comunidade internacional em 2000, terão que voltar a considerar como o mundo extrai e usa a energia, afirmou o diretor do Pnuma. Além disso, Steiner aplaudiu a Nova Associação para o Desenvolvimento da África (Nepad), um plano de reestruturação econômica para o continente, mas acrescentou que algumas de suas propostas em matéria de energia somente favorecerão os mais pobres dentro de 20 ou 30 anos. Para se beneficiar da energia hidrelétrica, como propõe a Nepad, é preciso construir represas cuja instalação causaria o deslocamento de milhares de pessoas e danos ao meio ambiente, afirmou.
Mais de 80% da população africana vivem sem eletricidade. No continente existe, inclusive, muitas escolas, hospitais, empresas e redes de informática que carecem por completo de energia elétrica. Mais de 97% dos 60 milhões de moradores que a cada ano se somarão o mundo até 2030, quando a população mundial chegará a oito bilhões, corresponderão ao Sul em desenvolvimento, segundo o informe do Banco Mundial “Perspectivas econômicas mundiais: Administrando a próxima onda da globalização 2007”. A aritmética é simples: haverá mais seres humanos demandando energia. Boa parte desse crescimento será nas cidades, cujos moradores exercem uma demanda energética muito maior do que os da área rural.
O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (Habitat) já alertava em 1999 que, embora a maior parte da população africana vivesse nessa época no campo, a taxa de urbanização era alarmante. Várias cidades já dominavam a economia continental. Além das populosas capitais dos países da África do Sul, brilhavam em vermelho nos mapas Cairo, Lagos, Nairóbi e Kampala. Mas este ano, pela primeira vez, a maioria da população mundial residirá em áreas urbanas, disse na conferência a diretora-executiva do Habitat, Anna Tibaijuka. Setenta e cinco por cento da energia gasta correspondem a povoados e cidades, o que requer investimento adicional para sua geração e distribuição em zonas urbanas, acrescentou.
“Nenhum país jamais reduziu a pobreza sem investimentos substanciais em energia, que é a chave para todos os objetivos de desenvolvimento humano. Não se pode fornecer água, educação ou saúde sem energia”, afirmou Tibajijuka. Na África, devido à falta de eletricidade, milhões de pessoas destroem as selvas em sua permanente busca por lenha para cozinhar, processo que prejudica esses ecossistemas. A destruição da vegetação pode levar à desertificação. A população de zonas que carecem de água sofre as conseqüências, como a morte do gado e a escassez de cultivos. A questão é se as nações africanas podem empreender o desenvolvimento de seus próprios recursos.
“A África não é pobre: os africanos são”, resumiu a prêmio Nobel da Paz 2004 e ministra-adjunta de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Quênia, Wangari Maathai. A população do continente carece da “formação necessária para utilizar seus abundantes recursos” e não haverá “desenvolvimento na África se as pessoas não usarem seus recursos de forma efetiva”, afirmou. Steiner citou como exemplo de uma forma barata e efetiva de utilizar água da chuva implementada no Quênia. Entre US$ 100 e US$ 150 bastam para que uma família de oito pessoas conte em pouco tempo com esse recurso de forma constante. O diretor do Pnuma exortou as nações africanas a fixarem com valentia sua própria agenda estabelecendo um contexto para que cada país invista em seu futuro, sem depender de os países ricos pautarem seu caminho para o desenvolvimento.
(Por Stephanie Nieuwoudt, IPS, 28/03/2007)