Por Professor Nazareno*
O ano de 2007 começou para os rondonienses com uma novidade: o Presidente Lula em conversa com o seu colega Evo Morales, Presidente boliviano, anunciou a possibilidade de se construir uma terceira hidrelétrica no nosso Estado. Agora é no rio Mamoré, bem na fronteira e em parceria com o país vizinho.Como se o anúncio da possível construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no município de Porto Velho não fosse o bastante para atrair toda a sorte de desgraças, infortúnio e mazelas para a nossa tão sofrida região, agora os dois mandatários, junto com autoridades dos dois países, e bem assessorados pela comandita de políticos locais, querem transformar o Estado de Rondônia na latrina da Amazônia com estes mega-projetos que só servirão para suprir os interesses alheios. Senão vejamos:
Rondônia já tem de sobra toda a energia de que precisa, portanto não há necessidade de se abrir várias feridas no nosso já desgastado meio ambiente apenas para resolver a necessidade dos outros. Mandar energia abundante e barata para o sul do país que nem conhece direito o nosso estado é um verdadeiro absurdo. Pergunte-se a um morador de São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo, onde fica Rondônia e ele certamente perguntará se é a capital de Rio Branco, confundirá o nosso estado com Roraima ou dirá outro absurdo qualquer. Até o desconhecido técnico de futebol do Santa Cruz de Recife, Givanildo Oliveira, disse que Rondônia “é terra de índio” e que tinha medo de que seus jogadores “levassem uma flechada” durante o recente jogo pela Copa do Brasil quando os pernambucanos perderam de 2 X 0 para o Ulbra de Ji- Paraná.
Hoje Porto Velho registra cerca de 30 casos de malária por dia. Com um enorme lago de águas paradas a apenas sete quilômetros do centro da cidade pode fazer com que esta doença vire uma pandemia de proporções inimagináveis. Já os que defendem tais projetos pensando na geração de empregos esquecem que os serviços serão temporários e que só atrairão peões que virão de todos os cantos do país para inchar ainda mais a nossa suja e esburacada capital aumentando os já muitos problemas sociais que herdamos dos garimpos e da transformação do território em Estado. Não há estatísticas, mas Porto Velho deve ser a capital mais suja e imunda do país sem contar que registramos um dos menores índices de saneamento básico entre as capitais, menos de 3% da nossa cidade são cobertos por rede de esgotos e água tratada.
Claro que os impactos ambientais foram minimizados. O rio Madeira foi feito para encher seis meses do ano e secar os outros seis. Ficará cheio para sempre entre o Santo Antônio e as terras bolivianas. Será que o baixo Madeira agüentaria uma vazante como a que ocorreu em 2005 sem afetar drasticamente o modo de vida dos ribeirinhos? E as famílias afetadas pela água dos lagos que se formarão serão indenizadas de forma justa? E como se tudo isso fosse pouco, quase todos os políticos de Rondônia defendem cabalmente estas construções. “Políticos de Rondônia” (Isto já é motivo para desconfiar). Afinal será muito dinheiro de royalties que entrará nos cofres de Porto Velho. E já que são esses mesmos políticos que têm a chave do cofre... Mas, e a industrialização do Estado? Ora, Indústria sem matéria-prima, sem mão-de-obra qualificada e sem mercado consumidor só existe mesmo é na cabeça dos políticos.
* Professor Nazareno é professor em Porto Velho
(Rios Vivos, 27/03/2007)