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2007-03-28
No último sábado (24/03), a população do Vale do Ribeira (SP), comunidades quilombolas e Guarani, entidades ambientalistas e estudantes protestaram contra o projeto da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) de barrar o Rio Ribeira de Iguape - o único grande rio que ainda corre livre em São Paulo - para a produção de energia para fins privados.

A manhã de sol forte e céu aberto mal começara quando os ônibus estacionavam no trevo rodoviário ao lado da BR-116, na altura no município de Cajati, no Vale do Ribeira. Deles desceram homens, mulheres, jovens e crianças. Mas sobretudo gente de mais idade, de caminhar lento e olhar atento. O povo acordara ainda de noite e vinha das vilas do interior, dos muitos quilombos do Vale do Ribeira, como Sapatu, Porto Velho, Mandira e Ivaporunduva. Se juntava aos índios Guarani, a grupos de estudantes, ambientalistas e moradores da região.

A multidão caminhou nove quilômetros pelo asfalto quente da BR-116 e, durante meia hora, fechou a rodovia para manifestar sua preocupação e revolta contra o projeto de construção da barragem de Tijuco Alto no rio Ribeira de Iguape, empreendimento da Companhia Brasileira de Alumínio que está sendo avaliado pelo Ibama.

De acordo com estimativa do Movimentos dos Ameaçados por Barragens (MOAB), 2.500 pessoas participaram do protesto. O estudo de impacto de Tijuco Alto estima que 5.180 hectares serão desmatados caso o empreendimento seja construído. Deste total, cerca de 53% são formados por vegetação em estágio médio ou avançado de regeneração.

Caso a barragem seja construída, solos férteis serão inundados, prejudicando a agricultura local. As comunidades Guarani do Vale do Ribeira também participaram da caminhada.

A CBA admite que, com Tijuco Alto, vai diminuir o número de espécies de peixes, principalmente aquelas que só habitam o Rio Ribeira. O Estudo de Impacto Ambiental da barragem afirma que sete escolas, três postos de saúde, 17 igrejas e três cemitérios serão “afetados” pelo reservatório.

Pelo menos 689 famílias terão suas vidas afetadas pela criação da barragem, além de todas as outras que foram expulsas durante a compra de terras pela CBA. A área afetada pelo empreendimento sofre um processo de erosão que será intensificado caso a barragem seja construída.

Carta aberta ao povo brasileiro

Barragem de Tijuco Alto será barreira ao desenvolvimento do Vale do Ribeira

O Movimento dos Ameaçados por Barragens – MOAB vem denunciar à população brasileira a ameaça que paira sobre a cabeça das comunidades quilombolas, dos pequenos agricultores, das colônias de pescadores e da riquíssima biodiversidade do Vale do Ribeira.

Está em análise no IBAMA o licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica de Tijuco Alto. Primeira de uma séria de quatro barragens projetadas, a UHE Tijuco Alto, se construída, irá gerar energia exclusivamente para a produção de alumínio nas fábricas da Companhia Brasileira de Alumínio – CBA, na região de Sorocaba/SP. Para aumentar o seu patrimônio, o Sr. Antonio Ermírio de Moraes, proprietário da CBA e um dos homens mais ricos do mundo, alagará terras de agricultores familiares, cavernas, mata atlântica e as belíssimas corredeiras do alto Ribeira. Sua finalidade, portanto, é privada, não atende ao interesse público, e por isso não deve ser autorizada.

Se construída essa barragem, estará aberto o caminho para a construção das outras três no mesmo rio: Itaóca, Funil e Batatal. Se construídas as quatro barragens, o desenvolvimento socioeconômico e cultural da região estará ameaçado, pois inviabilizará a vida de muitas comunidades de quilombos e pequenos agricultores, que serão expulsos de suas terras sem ter para onde ir; ameaçará a sobrevivência das várias colônias de pescadores de Iguape e Cananéia, que sobrevivem dos frutos do mar que serão afetados pelo barramento do rio; destruirá um dos maiores patrimônios espeleológicos do país, com conseqüências imprevisíveis em toda a região; alterará para sempre as unidades de conservação existentes na região que detém o maior contínuo de mata atlântica do país. Não aceitamos esses impactos! Não queremos a privatização da água para a CBA!

Queremos que seja revisto o estudo que prevê a construção das quatro barragens no rio Ribeira de Iguape. Queremos que ele continue correndo livre e alimentando o povo da região. Não precisamos de grandes obras, mas de oportunidades para todos. Queremos outro tipo de desenvolvimento: um desenvolvimento que realmente dê oportunidades de melhoria e qualidade de vida para toda população. Tijuco Alto representa a MORTE e nós queremos VIDA.

Contamos com sua adesão nesta luta. Mais informações: Moab –Telefone: (13) 3871-1877. E-mail: moabaxe@bol.com.br

TERRA SIM! BARRAGEM NÃO!
(ISA, 27/03/2007)

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