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2007-03-28
O empresário José Wilson Vedroni colocou em prática uma solução relativamente simples, mas que ninguém ainda havia experimentado. A partir de uma consultoria prestada por ele, surgiu a idéia de aproveitar os resíduos gerados pela construção civil para pavimentação de ruas e fechamento de valas na cidade paulista de Piracicaba. O processo foi tão bem-sucedido que outra administração pública resolveu importar a idéia e implantar o mesmo sistema em Vinhedo. Além de oferecer um destino seguro para os entulhos de construções e demolições, a solução barateia procedimentos normalmente dispendiosos realizados por prefeituras.

Segundo cálculos feitos por Vedroni, que apresentou dissertação de mestrado sobre o tema na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma cidade como Campinas, por exemplo, poderia economizar, em média, cerca de R$ 4,5 milhões por ano ao reciclar resíduos de demolição, oriundos de reformas de residências e de áreas comerciais e industriais, utilizando-os em pavimentação. O único investimento, no caso, seria a implantação de usinas de reciclagem, cujo custo compensaria em relação ao benefício que a iniciativa traria às administrações públicas e ao meio ambiente.

O processo consiste basicamente em recolher os entulhos e encaminhá-los para uma unidade de triagem e reciclagem. Vedroni explica que a porcentagem de aproveitamento desse material é de 80%. Após a separação, o resíduo passa por um britador do tipo impacto e, na seqüência, é peneirado e separado nas categorias “graúdos” e “miúdos”. Em seguida, são feitos ensaio geotécnico e análise química para a checagem de substâncias contaminantes. Depois desses procedimentos, o material já estará em condições de ser usado nas pavimentações e em trabalhos que não exijam uma sustentação complexa. Por isso, o objetivo é sua utilização por companhias de água e esgoto que, freqüentemente, precisam abrir e fechar valas para consertos em encanamentos. Para as análises químicas, Vedroni fez parcerias com o Instituto de Química da Unicamp.

Entulho
Vedroni tem especialização na área ambiental e para o trabalho de mestrado foi orientado pelo professor David de Carvalho. A sua principal preocupação foi com a quantidade de resíduos gerados no país e o seu descarte em lixões, aterros e áreas inadequadas. Estimativas do IBGE apontam que cada habitante geraria, em média, 0,51 tonelada de resíduo de construção e demolição por ano. Isso significa que o volume gerado no Brasil somaria cerca de 92 milhões de toneladas/ano. Essa quantidade é considerada extremamente alta. Ademais, seu descarte não é controlado.

Segundo o especialista, a resolução do Conselho do Meio Ambiente (Conama), de número 307, baixada em julho de 2002, prevê a responsabilidade do município no processo de criação do plano de gestão destes resíduos, incentivando a reciclagem e a criação de aterros de inertes. São notórios os impactos negativos ao meio ambiente e à saúde da população com relação ao não-gerenciamento. “Degrada o aspecto visual das cidades, provocando enchentes com o entupimento nas tubulações de águas pluviais e com o assoreamento dos rios e córregos”, argumenta.

Outra questão apontada pelo pesquisador no trabalho é a escassez crescente de áreas para criação do aterro específico em cidades com mais de 150 mil habitantes. A cidade de São Paulo, por exemplo, não tem mais espaço para criar este tipo de área. Neste sentido, a proposta seria extremamente adequada, pois evitaria altos investimentos com transporte e outros serviços para os procedimentos de descarte adequados em outras regiões. “Diariamente, são gerados resíduos e há necessidade de que sejam realizadas manutenções regulares em valas. Isso gera um círculo vicioso que culmina nos aterros, que são perfeitamente dispensáveis”, explica o idealizador do projeto.

O início
Há cerca de três anos, a cidade de Piracicaba tinha um grave problema, comum também em outras cidades. Os buracos abertos e fechados pelas companhias de água e esgoto, depois de certo tempo, acabavam cedendo. As manutenções tinham que ser feitas freqüentemente, gerando prejuízos para a Prefeitura. Solicitado a prestar uma consultoria, Vedroni deparou com uma usina de reciclagem de resíduos de construção e demolição parada e sem utilidade no município. Idealizou então um sistema para reaproveitar o resíduo gerado na cidade. A experiência deu certo e conseguiu ser exportada para Vinhedo.

Em Campinas, Vedroni fez os cálculos do entulho gerado. Chegou na marca de 540 mil toneladas por ano, o que corresponderia a 130 mil caçambas. Embora a cidade tenha uma usina de reciclagem, ela não chega a administrar 40% do que é gerado. Segundo o pesquisador, seriam necessárias mais três usinas do mesmo porte.
(Por Raquel do Carmo Santos, Jornal da Unicamp, 28/03/2007)

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