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2007-03-27
Famílias campesinas do sul do Brasil demonstram que é possível levar adiante uma agricultura sustentável sem utilizar produtos químicos ou sementes transgênicas. Segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), agricultores da Região Metropolitana de Porto Alegre obtiveram arroz agroecológico pelo quinto ano consecutivo. As estimativas dos especialistas do MST se confirmaram e, na safra 2006/2007, foram colhidos em torno de três mil toneladas do produto.

Mesmo assim, as plantações de arroz agroecológico ocupam, aproximadamente, cerca de 20% das terras cultivadas da zona. E das cerca de 700 famílias assentadas na área metropolitana de Porto Alegre, 150 produzem este tipo de cultivo.

Este dado não é menor, si se tem em conta o gigantesco avanço do modelo agrotécnico no Brasil, onde as multinacionais ocuparam as terras do sul com soja transgênica. Ao mesmo tempo, as grandes empresas agrárias investem milhões de dólares ao ano em negociatas e num sistema propagandístico que aponta seus produtos como a única via para uma agricultura economicamente sustentável.

Contradizendo esta visão hegemônica, um camponês daquela área, Huli Marcos Zang, do assentamento Filhos de Sepé Viamão está entre os que aderiram à produção sem químicos. Para o agricultor, a maior vantagem da agroecologia é que não se precisa ficar preso às imposições das multinacionais e do mercado.

"Produzimos nossas próprias sementes e não precisamos comprar outros insumos nas agropecuárias nem depender das multinacionais. Conseguimos produzir sem depender do mercado. Não importa o que ocorra, produzimos igual", afirmou o campesino de Porto Alegre.

Segundo o MST, as vantagens de produzir sem agrotóxicos são várias. A agroecología não degrada o meio ambiente, não contamina a água e não é nociva para a saúde dos produtores, assim como para os consumidores. Da mesma forma, são várias as vantagens econômicas, uma vez que o custo de mão de obra é mais baixo e o preço do arroz econômico é mais alto que o convencional.

Neste sentido, segundo o Instituto Riograndense de Arroz (Irga), o custo da lavoura tradicional de arroz se encontra em torno de três reais (US$ 1,4) por hectare, enquanto que, no sistema agroecológico, os produtores têm um gasto de apenas um real (US$ 0,5) por hectare plantada. Por outra parte, no mundo cada vez mais se abrem mais mercados para os produtos orgânicos, que são muito valorizados por consumidores europeus.

Alem de ter vantagens no plano econômico, a agroecologia impulsiona a recuperação de valores culturais ancestrais como a pequena agricultura familiar, tão vilipendiada nos países da América Latina por culpa do latifúndio e da ação das multinacionais agropecuárias.

Assim mesmo, o modelo que contempla o uso de agrotóxicos é sumamente nocivo para os camponeses, uma vez que os diferentes produtos químicos que se aplicam, funcionam como um assassino silencioso. Um exemplo disso é o altamente tóxico Gramoxonne, à base de Paraquat e fabricado por Syngenta, que são cobrados pela vida de centenas de agricultores na América Central.

O fato de se cultivar arroz orgânico, pelo quinto ano consecutivo, representa uma fissura no discurso das multinacionais e demonstra que alcançar a soberania alimentaria para os povos não é um objetivo tão distante.
(Por Roberto Aguirre, Adital, com informações da Agência Prensa Mercosur, 26/03/2007)

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