Jornalistas de 14 agências de notícias da bacia do mar Mediterrâneo se reuniram para discutir o desenvolvimento sustentável em um intercambio de experiências culturais e profissionais do qual surge um desafio: sensibilizar a opinião pública sobre o uso racional da água. Cuscuz, empanadas, gazpacho de melão, cordeiro, vinho, pescado, sopa de marisco, queijo, pão, azeite de oliva... e água. O Mediterrâneo ganha corpo na famosa dieta que leva seu nome e nos desafios regionais compartilhados pelos países ribeirinhos, como puderam comprovar os jornalistas reunidos em Zaragoza (Espanha) nos dias 21 e 22 deste mês para participarem do seminário da Aliança de Agências de Notícias do Mediterrâneo.

O encontro permitiu aproximar as margens deste mar, berço de civilizações e palco de uma infinidade de encontros e desencontros entre Norte e Sul. Os jornalistas de países tão diversos como Túniz, Eslovênia, Síria, Albânia, Itália, Portugal ou Marrocos participaram deste seminário dedicado à água e ao desenvolvimento sustentável. “Muitas vezes se fala de aliança de civilizações (proposta defendida pelos governantes da Espanha e Turquia dentro da ONU em oposição ao chamado choque de civilizações), mas costuma-se ficar apenas nas palavras. Aqui se passa das palavras aos fatos”. Essa foi a boas-vindas de Juan Maria Calvo, da agência estatal espanhola EFE.

As jornadas começaram com a apresentação oficial das conclusões e recomendações do Plan Bleu, centro de atividades da região do Mediterrâneo, integrado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O atual consumo de água supera os limites para um uso sustentável da bacia, afirmam essas conclusões. Por isso os especialistas destacaram a importância de sensibilizar, informar e educar a população sobre um consumo mais eficiente. Myriam Khadraoui, da agência tunesina TAP, expressou sua intenção de “criar uma associação de jornalistas em Túnis para fomentar o conhecimento e a divulgação da informação sobre meio ambiente”, já que é “insuficiente” a qualidade a quantidade de notícias que podem ser encontradas em seu país.

Athena Arsalidou, da agência cipriota CNA, afirmou que o problema da água ganha terreno nos meios de comunicação de seu país, e lembrou uma controvérsia gerada pelo atual governo quando suspende uma campanha pública – de sucesso – sobre sensibilização do bom uso da água, como parte de seu programa de cortes orçamentários. Raquel Rio, da agência Lusa, de Portugal, se mostrou interessada por alguns dados fornecidos pelo Plan Bleu e o desafio da cooperação regional. É que a bacia do Mediterrâneo concentra 60% da população mundial que não tem acesso à água potável e, como apontou Khadraoui, em Túnis somente 18% da população pode desfrutar desse recurso.

Outra contradição da região é a grande força econômica do setor turístico, com milhões de visitantes em suas costas, mas que consomem, por pessoa, entre 500 e 800 litros de água por dia, quando um habitante local se conforma com uma média de 108 litros diários. Os jornalistas também tiveram a oportunidade de realizar uma visita cultural a Zaragoza e estreitar laços. Assim, Rachid Mamouni, correspondente da agência marroquina MAP, pôde explicar a origem árabe de alguns sobrenomes de espanhóis ali presentes, e se interessou pelos restos da cultura muçulmana na cidade, como o Palácio da Aljaferia, uma bela obra de arquitetura árabe do século IX e hoje sede do Parlamento desta região espanhola, ou o desenho de influência árabe da Catedral de La Seo.

Flora Nikolla, da agência albanesa ATA, explicou “a grande mudança que a Espanha experimentou nos últimos 15 anos”, desde que ela começou a conhecer este país. Um crescimento econômico contínuo que também deixou seu impacto no meio ambiente, já que, segundo o Plan Bleu, o país deve reduzir seu consumo anual de água em 20%¨. A sociedade responsável pela Exposição Internacional de Zaragoza 2008, dedicada à água e que acontecerá entre 14 de julho e 14 de setembro do próximo ano, patrocinou o seminário ofereceu aos jornalistas uma visita às obras no meandro do rio Ebro, onde será realizada.

Mais de 80 países já anunciaram sua presença nesse encontro que pretende impulsionar uma nova cultura da água com base em uma gestão da demanda mais eficaz e sustentável. Dezesseis anos depois de sua fundação, a Aliança de Agências de Notícias do Mediterrâneo funciona com 10 membros de países do Norte, 10 do Sul e três observadores, sendo a IPS um deles. Seu secretariado geral se mantém em Chipre, ao qual Calvo agradeceu especialmente “seu trabalho generosidade”. As agências “têm em comum o fato de cada uma delas ser fundamental em seu país como fornecedora de conteúdos sérios”, ressaltou.
(Por Alberto Mendoza, IPS, 26/03/2007)
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