Alerta vermelho para possíveis tsunamis no Caribe
2007-03-27
O temor de uma tragédia semelhante à causada na Ásia pelo maremoto no Oceano Índico em 2004 mantém acesa a luz vermelha no Caribe, onde é preparado um Sistema de Alerta (SAT) de tsunamis. Cientistas que participaram deste esforço consideram absolutamente possível a ocorrência de maremotos na região, e destacam a importância de acompanhar o SAT com programas de prevenção e minimização de riscos. “Além de investir em sistemas de satélite, bóias e sondas, é preciso preparar e educar as pessoas. Prevenir é vital para reduzir o perigo de desastre”, disse à IPS Enrique Arango, especialista do Centro Nacional de Pesquisas Sismológicas (Cenais) de Cuba.
As estatísticas em todo o mundo demonstram que os fenômenos naturais causam cada vez maiores perdas de vidas humanas e danos materiais devido ao aumento da densidade demográfica nas zonas costeiras e à vulnerabilidade social e econômica de muitos territórios insulares. Nesse sentido, Arango alertou que “uma visão tecnocrata pode levar a concluir que o desastre pode ser evitado somente com a implementação de um SAT”, que inclui uma rede de sensores sísmicos e mareográficos em terra e no mar, conectados por rádio a um satélite que transmite de forma contínua as informações até um centro.
Esse centro alerta automaticamente se um sismo pode gerar grandes ondas e se uma anomalia no processo pode corresponder à formação de um tsunami. Mais de 220 mil pessoas morreram na Ásia e parte da África em dezembro de 2004 devido ao tsunami, palavra japonesa para designar grandes ondas que invadem a costa em razão de terremotos ou erupções vulcânicas submarinas. Dessa vez o maremoto foi provocado por um sismo de nove graus na escala Richter, com epicentro perto da ilha de Sumatra, na Indonésia.
“O problema não é apenas prever um tsunami. Deve-se trabalhar de maneira paralela na avaliação e manejo do risco, o que significa diagnosticar e eliminar as vulnerabilidades existentes, e não permitir criar outras nas áreas com risco”, acrescentou. Um sistema de alerta regional deveria necessariamente incluir os serviços sismológicos, oceanográficos e de defesa civil interligados em tempo real, promover a educação e preparação da população e levar em conta que, devido à velocidade do maremoto, os pontos próximos ao epicentro recebem o alerta muito tarde.
Depois do tsunami no oceano Índico em 2004, muitas ilhas e países do Caribe começaram a preparar programas locais de prevenção e estudos de riscos. Mas a implementação de um SAT regional requer maiores recursos e depende, sobretudo, da vontade e possibilidade reais de participação de muitos países e instituições, geralmente com interesses diferentes. “Isto torna difícil, até certo ponto, criar um SAT regional em pouco tempo que satisfaça todos os países por igual”, disse Arango, que considera importante integrar a rede, embora os maiores perigos para seu país sejam, na realidade, furacões e terremotos.
O especialista destacou que o Cenais dispõe de uma rede de estações sismológicas equipadas com tecnologia adequada para detectar sismos no Caribe e na costa do Pacífico da América Central, e que a oferece para a formação de um SAT. Durante o século XV, foram registrados no Caribe entre 30 e 40 tsunamis, tanto provocados por sismos submarinos e deslizamentos em razão destes, ou por erupções vulcânicas nas Antilhas Menores. Para Arango, os dados refletem que o risco de novos maremotos é real.
Uma das ameaças provém do Kick-`em-Jenny, um vulcão submarino a oito ou 10 quilômetros da pequena ilha de Granada, que desde seu descobrimento em 1936 entrou em erupção cerca de 10 vezes. “As ilhas situadas no arco das Antilhas Menores são as que apresentam maior perigo, pois o processo tectônico atual é de subducção, quando uma placa tectônica se introduz por baixo da beira de outra, e é quando ocorrem os sismos mais fortes, que com freqüência provocam tsunamis”, acrescentou Arango.
O especialista afirmou que este tipo de processo é semelhante ao que ocorre no Índico e no chamado Cinturão de Fogo do Pacífico, um conjunto de fronteiras de placas tectônicas que recorrem todo esse oceano desde a costa da Ásia até a da América, e que se caracterizam por apresentar uma grande atividade sísmica. A subducção provoca a formação e o desenvolvimento de vulcões ativos que podem entrar em erupção e causar tsunamis, como ocorreu na ilha de Martinica em 1902, quando entrou em erupção o Monte Pelée, afirmou. No caso dos países centro-americanos, o perigo de tsunami é muito maior na costa do Pacífico do que no litoral do Caribe. Um dos mais graves foi o que afetou a Nicarágua em 1902 matando 170 pessoas.
O sudeste cubano é propenso a movimentos sísmicos devido à sua proximidade com a zona de contato entre a Placa Norte-americana, à qual pertence está ilha caribenha, e a microplaca Gonave, situada entre Cuba, Jamaica e Haiti, através da falha Oriente, com um movimento horizontal entre ambas d aproximadamente 20 milímetros por ano. Entretanto, devido ao mecanismo do movimento da falha (de deslizamento), é muito baixa a possibilidade de um sismo de grande magnitude nessa região poder gerar um tsunami catastrófico para Cuba ou outro país próximo.
As maiores probabilidades destas alterações marinhas em torno de Cuba, devido a terremotos, estão relacionadas com a zona de subducção ao norte de La Espanhola e Porto Rico. Em meados de março, a Venezuela foi sede da segunda reunião do Grupo de Coordenação Intergovernamental para o Sistema de Alerta de Tsunamis e outras Ameaças Costeiras para o Caribe e Regiões Adjacentes (ICG-C). Neste encontro, que seguiu a outro realizado em Barbados em janeiro de 2006, foi proposta a criação de um centro de informação nesse país e a análise da possibilidade de estabelecer na Venezuela ou em Porto Rico a sede do Sistema de Alerta. A imensa maioria dos países costeiros da América Latina e do Caribe carecem de sistemas avançados para medir sismos no leito marinho, do que depende quase completamente o Sistema de Alerme de Tsunami do Pacífico, com sede no Hawai.
(Por Patricia Grogg, IPS, 26/03/2007)
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