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2007-03-26
Um programa da Organização das Nações Unidas prevê reduzir substancialmente o consumo de água nos 21 países com litoral no Mar Mediterrâneo, apesar da pressão da mudança climática e do aumento da população. A gestão da demanda de água, através da eficiência no consumo e cooperação entre os países da costa norte do Mediterrâneo e os do sul, surge como resposta para enfrentar a crescente pressão sobre este escasso recurso, de acordo com diversos especialistas.

Os 21 países banhados pelo Mediterrâneo necessitam atualmente de 290 mil hectômetros cúbicos de água por ano para atender suas necessidades, mas sua sede aumentará para 330 mil hectômetros cúbicos até 2025. Isso apesar de alguns destes Estados já estarem explorando seus recursos hídricos em 200% de sua capacidade, exaurindo os depósitos fósseis que há milhares de anos descansam no subsolo. Entretanto, graças a uma melhor gestão da demanda, a situação pode ser revertida no mesmo período até conseguir que o consumo caia para 250 mil hectômetros cúbicos.

São dados elaborados pelos especialistas de Plan Bleu, órgão integrado no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e dedicado ao estudo do desenvolvimento sustentável da região. O terceiro seminário de Plan Bleu dedicado à água concluiu nesta quinta-feira em Zaragoza, na Espanha. Os países ao sul do Mediterrâneo serão os primeiros a enfrentar o problema de abastecimento de água e energia de sua população e centros turísticos, segundo o diretor do Plan Bleu, Henri Luc Thibault. O recurso sofrerá a pressão da mudança climática, com seu efeito sobre os rios e as chuvas, e o aumento da população da região, de 428 milhões para 524 milhões de pessoas até 2025.

Thibault insistiu na cooperação Norte-Sul. Trata-se – disse – “de um problema compartilhado e coletivo no qual os países do Sul podem aportar boas práticas muito antigas e ensinar o Norte”. Além disso, destacou a importância de estabelecer objetivos regionais de eficiência, seguidos de uma avaliação constante dentro das políticas agrícolas, energéticas, turísticas e ambientais. Para os especialistas, a chave está na otimização do uso da água, tanto em quantidade quanto em qualidade, ao não degradá-la em demasia.

“A ordenação do território e o urbanismo é chave, já que não há casa mais ineficiente do que uma casa fazia”, disse Domingo Jiménez, dirtor da Tribuna da Água da Exposição Internacional de Zaragoza 2008, que acontecerá entre junho e setembro. Jiménez se referia às segundas residências nos países do Norte, utilizadas, em média, durante 29 dias por ano, mas que precisam de um importante esforço de abastecimento e saneamento, bem como as casas que ficam vazias devido à especulação imobiliária.

Entretanto, a maior parte dos recursos hídricos na bacia mediterrânea se dedica à agricultura. Jiménez diz que o objetivo “é conseguir mais colheitas para alimentar uma população crescente, utilizando a mesma quantidade de recursos hídricos”. A eficiência “é a grande fonte de água”, afirmou. Plan Bleu recomendou aumentar as tarifas da água e instalar contadores inteligentes para medir com precisão a quantidade utilizada. As tecnologias da informação e a comunicação são ferramentas úteis para distribuidores e consumidores na hora de conhecer o estado da rede e a eficiência do serviço. Além disso, os grupos de trabalho do seminário destacaram a importância de ecossistemas como os mangues.

Eduard Interviews, porta-voz do grupo dedicado aos sistemas ecológicos, destacou a necessidade de criar um inventário do valor dos bens e serviços que oferecem, bem como dos prejuízos que seu desaparecimento causaria. Nesse sentido, Thibault alertou que “nenhuma empresa pode oferecer os bens e serviços que os ecossistemas geram”. A transferência para âmbito local e as associações de usuários ou agricultores de parte da gestão da água, as medidas de educação e sensibilização, e a criação de um Obserservatório Mediterrâneo da Água que registre as boas práticas dos responsáveis completam as recomendações feitas no seminário.

Jornalistas da Aliança de Agências de Notícias do Mediterrâneo (Aman), da qual a IPS é observadora, participaram da apresentação destas conclusões, convidados pela sociedade encarregada da Exposição Internacional Zaragoza 2008, que reunirá mais de 80 países durante sua realização. Em palavras de Juan Maria Calvo, da Agência EFE de notícias, da Espanha, que atuava como anfitriã, “Aman é uma aliança humilde que funciona graças ao entusiasmo de seus membros, 10 do Norte e 10 do Sul, que permite o intercâmbio cultural, a formação e a apresentação em comum de suas necessidades”, disse.

Athena Arsalidau, da agência cipriota CNA, contou como em seu país se construiu uma estação de dessalinização para aproveitar água do mar com fins agrícolas, enquanto outras duas estão em construção. Precisamente, essas unidades são apontadas por Thibault e Jiménez como outro meio para atender as necessidades de água no Mediterrâneo, aproveitando para isso as energias renováveis abundantes nesta região, como a solar.
(Por Alberto Mendoza, IPS, 23/03/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=29577&edt=1

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