Derretimento antártico pode estar se acelerando, diz estudo
2007-03-26
A elevação do nível dos mares e o derretimento das calotas polares estão nos limites máximos das projeções, já causando dificuldades incontornáveis em vários assentamentos humanos, disseram importantes cientistas ao analisarem novos dados de satélites.
Em fevereiro, o relatório de uma comissão climática da ONU estimou em 18 a 59 centímetros a elevação dos mares neste século, com um aumento de temperaturas na faixa de 1,8ºC a 4ºC. "As observações estão no limite muito superior das projeções", disse o respeitado oceanógrafo australiano John Church à agência de notícias Reuters.
Passado esse limite, partes da Antártida e da Groenlândia se aproximariam de um degelo virtualmente irreversível, o que faria o nível do mar subir vários metros em todo o mundo, disse ele. Em 2002, parte da banquisa de Larsen se rompeu na Antártida, criando um iceberg do tamanho de Luxemburgo, com 500 bilhões de toneladas. Isso não se repetiu desde então, mas o aquecimento da península Antártica é o mais acelerado em todo o planeta.
"Houve cenários apocalípticos de que o oeste da Antártida poderia desabar bem rapidamente," diz Tas van Ommen, glaciologista da Divisão Antártica Australiana, em Hobart. Tal apocalipse não ocorreu, mas mesmo no leste da Antártida, que é isolado do aquecimento global pelo frio extremo e pelas altitudes elevadas, novos dados mostram que a altura da geleira de Tottenham, perto da base australiana de Casey, diminuiu dez metros nos últimos 16 anos.
Os cientistas dizem que o gigantesco recuo da geleira da ilha Heard, mil quilômetros ao norte da Antártida, é um exemplo de como áreas periféricas da região polar estão derretendo. Além disso, o rompimento do gelo cria icebergs que também abrem trilhas que aceleram o fluxo das geleiras para o mar.
Church lembrou que os mares eram 4 a 6 metros mais elevados há 100 mil anos, quando as temperaturas estavam nos níveis esperados para o final deste século. Os fluxos dinâmicos de gelo podem acrescentar mais 25% à estimativa de aumento dos mares feita pela comissão da ONU, segundo Van Ommen.
O cientista australiano John Hunter, que estuda a história do nível dos mares, aconselhou as comunidades litorâneas a erguerem diques para conter as marés do futuro. "(Mas) há muitos lugares onde não dá para fazer isso e onde será preciso se acomodar às inundações", afirmou. Isso já acontece no sul da Inglaterra, onde as autoridades não conseguiram proteger todas as áreas do avanço do mar.
Cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo vivem a menos de um metro de altitude sobre o nível do mar, segundo o cientista Steve Rintoul, também do governo australiano. "Esses 100 milhões de pessoas terão de ir para outro lugar", afirmou.
Cada metro a mais no nível do mar provoca um recuo de cerca de cem metros na linha das praias, e cada tempestade torna as regiões mais propensas à erosão. "Não dá para dizer que vamos simplesmente erguer diques", afirmou Hunter.
(Reuters, 23/03/2007)
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